sábado, 27 de fevereiro de 2016

A fortaleza do homem comum - Autor: Gilberto Dantas


Artur da Távola é uma companhia que prezo muito. De certa forma, ele não morreu.  Se ainda posso dialogar com ele é porque ele está vivo, para mim. Sim, se você for muito racional, já estará me contestando: “não pode haver diálogo”. Mas aí, meu amigo, você está se referindo à  vida superficial. Estou falando de vida mais profunda. Estou intuindo espaços que normalmente não vemos.

Consigo ver seu sorriso maroto e até ouço sua voz.

Hoje, meio chateado com essa vida normal, fui a um dos livros dele.

E passamos a conversar. Não  tem poeta que conversa com passarinho,  com árvore, com os astros?  Qual a surpresa por eu conversar com alguém que gosto muito e  que existiu de carne e osso?

Vamos lá, deixa-me continuar. Ele escreveu sobre fraquezas e fortalezas do ser humano.  É uma página muito linda. Mas não quero repeti-lo. Ele me disse que temos uma fortaleza bem lá no fundo e que ela pode aparecer se chegamos a ter maturidade.

Enquanto a maturidade não chega, a nossa fraqueza é que vai desbravando tudo. Diz ele que ganhamos prêmios, somos aceitos pela nossa fraqueza.

É com essa fraqueza que conquistamos o mundo. Fazemos amigos, temos amores, fazemos crônicas e poesias.  Segundo ele, tudo isso é fraqueza. E é!

Volto a repetir, dá vontade de soltar a página dele, porque ele enumera tantas fraquezas. É uma delícia essa descrição das fraquezas.

Mas quero que a crônica seja minha. Deixa  eu botar minha fraqueza pra fora...

Disse para o Artur: “ vou  misturar fraqueza com fortaleza,  posso?”  - ele sorriu e assentiu com a cabeça.
                              
Amigo  é assim, faz nossas vontades, mesmo sabendo que estamos errados.

Esclareço que o Távola é que está certo. Maturidade é a coragem para você se  aceitar. Lembro-me logo de Paul Tillich com a sua “Coragem de Ser”.

Vou dar meu ponto de vista de homem comum, mas já sabendo que estou errado. É que me deu uma vontade de exaltar o homem simples, o homem da roça, aquele homem que é espetacularmente retratado  nos contos da Maria Mineira.

O homem ignorante, que se sente pequeno diante do universo, mas que mesmo assim constrói a duras penas uma família. Que procura dar o bom exemplo aos filhos, à sua maneira. Que tem crendices, que, de vez em quando faz bobagens. Que luta pela vida, que trabalha de sol a sol. Que não desanima. Que, de vez em quando, erra.  Mas acha que deve acertar. Que tem uma religião, que não entende muito bem. Mas acredita firmemente num Deus, que criou o mundo que ele conhece e que tudo vê.

Esse homem, meu amigos e amigas, que enfrenta essa vida comum, muitas vezes insípida, esse, para mim,  é o verdadeiro herói, é o homem forte.

Isso tudo que o leitor   acabou  de ler, falei em voz tão alta que cheguei a ver o Artur arregalar os olhos!  E  com aquele seu jeitão compassivo, sorriu novamente para mim, com o dedo polegar direito levantado, como quem diz:    “ de certa maneira, você  também está certo”.

Saí da mesa do computador exultante e nem me despedi do amigo. Fui correndo para o boteco da  esquina para exercer uma das minhas fraquezas: “ Hélio, me dá uma garapa com um pastel de carne”.

Gilberto Dantas - Miracema/RJ
Publicação autorizada através de e-mail de 09/10/2011

Um comentário:

Carlos Costa disse...

Paulo Alberto Moretzsohn Monteiro de Barros, pseudônimo de Artur da Távola, morreu no RJ no dia9 de maio de 2008. Ele foi advogado, jornalista, radialista, escritor, professor e político brasileiro,ou seja, um grande pensador, um excepcional escritor e um grande político, fundador do PSDB. Iniciou sua carreira política em 1960 pelo então estado da Guanabara. Durante muito tempo, foi apresentador Era apresentador de um programa de música erudita na TV Senado. Exepcional lembrança, amigo. Parabéns. Ele merece sim e continua vivo para todos os que o leram ou o conheceram. Eu...apenas o lí. Um abraço e parabéns pelo seu belo texto!