sábado, 25 de fevereiro de 2012

Pedinte cara de pau - Autor: Nêodo Ambrósio de Castro

Por não existir outro trajeto, de volta para casa, sempre cruzo o mesmo sinal há anos. Sempre estiveram ali pedindo uma moeda garotos mal vestidos e sujos, mau alimentados, sem higiene, mas garotos. Aqueles pequenos seres que deixam suas casas por motivos diversos. Basta parar o carro no sinal e lá estão eles com a mão estendida. Nada falam, pois já têm a certeza de que entendemos seu gesto. Também não há necessidade. Para que falar? Sei que nem sempre dirão a verdade. Portanto não importa sua versão, para mim basta ver seu estado e imaginar o que aquela criança já passou. Maus pedaços, imagino: família desajustada, pais alcoólatras, maus tratos, fome, abandono, etc. Dormindo sob as marquises, sendo espancados pelos mais velhos ou adultos, fugindo da polícia e sofrendo todo tipo de violência. Se usam drogas, pouco importa. Será que um de nós, vivendo aquela vida, não usaria?

Bem tudo isso parece muito sério e até constrangedor, para nós que nos encontramos dentro de nosso carro, com todo conforto, nem o calor nos afeta, pois o ar condicionado cuida de baixar a temperatura.

Mas certo dia notei mais alguém no mesmo cruzamento, “pilotando” uma cadeira de rodas, a pedir moedinhas. Aquele sim, todos ajudavam, tinha aparência de um deficiente que não podia trabalhar e estava sempre maltrapilho, assim como seus colegas mirins. Disputavam as moedas dos passantes de igual para igual.

Minha mulher sempre me dizia para manter no console algumas moedas para satisfazer a carência daqueles pobres pedintes.

Muitas vezes eu deixei a minha moedinha nas mãos daquele “paraplégico” da cadeira de rodas. Preferia dar a ele que aos garotos, sempre pensando que usariam o dinheiro para comprar drogas. Algum tempo depois, assistindo o jornal local, pela TV, fiquei surpreso ao ver que era sobre aquele “cadeirante”.

Não sabia que próximo ao sinal de trânsito existia uma câmera, dessas que fiscalizam tudo, utilizadas para prevenir crimes.

Pois essa câmara flagrou o pseudo deficiente, levantar-se da sua cadeira de rodas, com toda desenvoltura e correr atrás de um dos garotos pedintes.

Foi aí que a policia o autuou e levou para o distrito, onde confessou que por estar desempregado, resolveu faturar uns trocados e gostou da idéia, pois a prática de esmolar lhe rendia mais que o emprego que havia perdido.

Vivendo e aprendendo...

Autor: Nêodo Ambrósio de Castro - Eugenópolis/MG

Publicação autorizada pelo autor através de e-mail de 25/10/2011

3 comentários:

Carlos Costa disse...

Caro Neodo, como ser humano, tenho pena também; como assistente social, tenho cautela e pesquiso. Um dia, engraxando meus sabados, uma garota de doze anos pediu-me dinheiro. Comecei a conversar. Ela disse que morava com a mãe e ela engraxava sapatos para durante a noite e se prostituia durante o dia. Fiquei assustado. Pedi para levá-la em casa em meu carro. Disse que não queria nada com a garota; mas somente conhecer sua família. Desceu do carro e a acompanhei. Sempre olhando para trás para ver se ainda acompanhva, decidiu correr. Encontrei a mãe bebendo em um bar, enfim, descobri que tudo era mentira. Portanto, esse é só mais um caso...outros já ocorreram, como mulher que usa crianças para pedir esmolas etc. Um abraço,

Carlos A. Lopes disse...

Amigo Neôdo, o seu comentário foi acolhido. Nem sempre os comentários são aceitos. É um problema do fabricante do modelo, ou seja do bloggger. Diria aos amigos que não conseguindo, envie para o e-mail do blog e anexarei abaixo da postagem em questão. Normalmente quem utiliza um navegador que não seja o Esplore (exemplo goolgle crome) consegue melhores resultados.

Abreu Martins disse...

Então. Aqui a gente fica com receio de tanta gente pedindo nos faróis.
É uma realidade que precisa ser combatida. É desumano mas é necessário. O governo que é culpado. Precisa colocar criança na escola. Não proibiu o trabalho, que proiba a mendicancia nas ruas. Muito boa sua crônica. abraços.