quinta-feira, 20 de março de 2014

Sujeito azarado - Autor: Roberto Rêgo

O Paulão é o que se pode chamar de um cara azarado. Tal e qual o seu xará da “Grande Família”, interpretado pelo fenomenal Evandro Mesquita no episódio de ontem (02/9) mostrado na “TV”, o Paulão é fechado. Dá tudo errado com ele, essa é que é a grande verdade.

Senão, vejamos, quando ele nasceu não havia ainda exame de ultrasonografia gestacional, de forma que seus pais compraram todo o enxoval em cor de rosa, pois esperavam ansiosamente uma menina. Nasceu um moleque taludo, de saco roxo e tudo o mais, forte que nem um touro. Os pobres pais tiveram que comprar um novo enxoval, agora em cor azul, dobrando, pois as despesas com o recém nascido.

Por volta dos dez anos, o Paulão se preparou para a primeira comunhão, freqüentando a catequese na igreja matriz de Nossa Senhora do Rosário, em Santana de Pirapama, cidade vizinha a Cordisburgo, terra do famoso escritor mineiro Guimarães Rosa. No dia da missa de sua comunhão, o padre Isaías veio botando a hóstia consagrada na boca da meninada toda e, justo na hora do Paulão comungar, o último da fila, acabaram-se as hóstias! ...

Quando adolescente, na fase dos namoricos e das primeiras descobertas no terreno amoroso, Paulão se tomou de amores pela Dadinha, morena sacudida de Santana do Pirapama. A morena lhe dava bola e ele, tímido e nervoso, tinha dificuldades em se aproximar da moça e engatar o namoro, no que foi ajudado pelo amigo Tonico, figurinha difícil no lugar. Pois na primeira vez que o Paulão conseguiu entrar na casa da Dadinha, sendo apresentado aos seus pais, ele foi namorar na sala, todo nervoso. Dona Joana, a sogra, foi pra cozinha preparar um café e o “Seu” Geraldo, o sogro, foi até o banheiro esvaziar a bexiga.

Foi aí que o Paulão cismou de lascar um beijo na Dadinha, ela endureceu o jogo, esquivou-se, o moço puxa daqui, a moça escorrega dali e quando o rapaz passou o braço na sua cintura e puxou-a de encontro ao peito seu sistema nervoso não agüentou a pressão e o intestino deu sinal de fraqueza, liberando um “pum” daqueles fedorentos, avisando que já vinha sujeira. Foi a “caganeira” que mandou ao “pum” dizer: “-Vai na frente buzinando,  que eu estou sem freio! ...”

O resultado foi que o Paulão largou a Dadinha e despinguelou de volta pra sua casa, mas não chegou à metade do caminho, aliviando-se nas calças ali mesmo na praça e se  emporcalhando todo. O pior foi que, depois disso,  o  Tonico tomou  seu lugar no coração da Dadinha.

Finalmente, aos trinta e três anos, homem feito, o Paulão casou-se com moça distinta de Sete Lagoas, a Soraya. Pois bem, foram pro Guarujá em lua de mel e levaram os pais da moça, “Seu” Juvenal e Dona Marieta, não sei pra quê. Mas levaram. Na manhã seguinte à primeira noite de núpcias, o Paulão saiu com o sogro, “Seu” Juvenal, logo após o café da manhã, pra  pescar logo ali na  Praia  da Enseada, defronte  ao hotel.

O sogrão preparou seu molinete, adiantou-se e foi jogar o anzol. O Carlão, um pouco mais atrás, preparava a sua isca e quando “Seu” Juvenal fez o movimento com a vara para trás, a fim de lançar bem longe seu anzol, o dito cujo pegou justo na beiçola do Paulão, arrancando-lhe um bom pedaço, gritos de dor e desespero.

Correria, sangue, Pronto Socorro  e adeus lua de mel à beira mar! ...          

Autor: Roberto Rêgo – Belo Horizonte/MG
Publicação autorizada pelo autor através de e-mail.

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