sábado, 19 de novembro de 2011

Porque escrevemos, segundo George Orwell - Cantares alheios (IX)


Aparte a neces­si­dade de ganhar a vida, penso haver qua­tro gran­des moti­vos para escre­ver, segu­ra­mente para escre­ver prosa. Exis­tem em dife­ren­tes graus em cada escri­tor, e no mesmo escri­tor vari­a­rão com o tempo, e de acordo com a atmos­fera em que ele está a viver. São eles:

1. Puro egoísmo. O desejo de pare­cer esperto, de ser falado, de ser recor­dado depois da morte, de con­se­guir a des­forra dos adul­tos que nos des­pre­za­ram na infân­cia, etc., etc. É ridí­culo fin­gir que isto não é um motivo, e forte. Os escri­to­res par­ti­lham esta carac­te­rís­tica com os cien­tis­tas, artis­tas, polí­ti­cos, advo­ga­dos, sol­da­dos, empre­sá­rios de sucesso – em suma, com a camada supe­rior da huma­ni­dade. A grande massa dos seres huma­nos não são pro­fun­da­mente egoís­tas. Depois dos trinta anos aban­do­nam quase por com­pleto o sen­ti­mento de indi­vi­du­a­li­dade – e vivem ape­nas para os outros, ou dei­xam sim­ples­mente abafar-​​se pelas suas labu­tas. Mas há tam­bém a mino­ria de pes­soas dota­das, espe­ran­ço­sas, que estão deter­mi­na­das a viver as suas vidas até ao fim, e os escri­to­res per­ten­cem a esta classe. Os escri­to­res sérios, devo acres­cen­tar, são de forma geral mais vai­do­sos e egoís­tas que os jor­na­lis­tas, embora menos inte­res­sa­dos no dinheiro.

2. Entu­si­asmo esté­tico. A per­cep­ção da beleza no mundo exte­rior, ou, por outro lado, nas pala­vras e na sua pre­cisa dis­po­si­ção. O pra­zer do impacto de um som em outro, da fir­meza da boa prosa ou do ritmo de uma boa estó­ria. O desejo de par­ti­lhar uma expe­ri­ên­cia que se con­si­dera de valor, e imper­dí­vel. A moti­va­ção esté­tica é muito débil em inú­me­ros escri­to­res, mas mesmo um pan­fle­teiro ou um autor de manu­ais terá pala­vras favo­ri­tas e fra­ses que lhe ape­lam por razões não uti­li­tá­rias; ou pode ainda ser sen­sí­vel à tipo­gra­fia, ou à lar­gura das mar­gens, etc. Acima do nível dos horá­rios dos com­boios nenhum livro está com­ple­ta­mente livre das con­si­de­ra­ções estéticas.

3. Impulso his­tó­rico. O desejo de ver as coi­sas como são, de des­co­brir os fac­tos verí­di­cos e preservá-
​​
los para uso da posteridade.

4. Pro­pó­sito polí­tico – usando a pala­vra “polí­tico” no seu sen­tido mais lato. O desejo de empur­rar o mundo numa certa direc­ção, de mudar as ideias das pes­soas sobre o tipo de soci­e­dade pela qual devem lutar. Mais uma vez, livro algum está livre de uma ten­dên­cia polí­tica. A ideia de que a arte não deve ter nada a ver com a polí­tica é, em si mesma, uma ati­tude política. 

Encontrei o texto acima no Uai, mundo? O blog do Cacá. Que, por sua vez, o achou no blog do João Nunes. Que, por sua vez, foi quem o traduziu do original.


Texto extraido a partir do blog: Casal 20 - Região do Araguaia/MT

http://casal20ribas.blogspot.com/
http://mulheresabias.blogspot.com/

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