terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Aprendendo com a cachorra - Autor: José Cláudio - Cacá

Alguém disse que quanto mais conhece o ser humano mais admira o seu cachorro. Eu não vou arriscar atribuir autoria, pois na internet há mil e um autores que foram agraciados com a paternidade dela. A internet não é muito confiável para pesquisar certas coisas, uma delas é autoria. Acho além de tudo, uma frase derradeira de quem desistiu de vez das possibilidades de convivência humana saudável e agradável. Um horror ter que admitir isso, pelo menos para mim que tenho um olho no humano e idealista como uma planta. Toda planta tem um ideal. Crescer, florir ou frutificar e fornecer ar puro para fora de seu mundo de planta.

Isso não impede, no entanto, que eu aprenda muita coisa com os animais. Tenho aprendido, por exemplo, com a minha cachorra uns hábitos alimentares que não consegui por conta própria ou de legado da educação que meus pais me forneceram. Cachorro não tem o olho maior do que a barriga depois de adulto. Você coloca lá a água e a comidinha dele e ele vai comendo à medida que tem fome. Na medida certinha. Saciou-se, deixa ali o que sobrar e volta novamente para terminar quando vier outra fome ou sede. Se engorda é por que o dono lhe transmite hábitos insalubres. Infelizmente, nesse aspecto ele também aprende com os humanos e quase nunca coisas boas. Outra curiosidade é com relação às queixas de insônia. Eu que tenho o hábito de acordar pela madrugada fico observando-a. Costuma ficar horas deitada olhando para o tempo (parece meditar) e depois que o dia amanhece, dorme um sono profundo. Dorme antes do almoço, dorme depois do almoço. E tudo isso sem culpa.

A culpa humana se chama tempo. Esse relógio que alterou a biologia, passando a tentar fazer o organismo funcionar cem por cento, se tomarmos café pela manhã, almoçarmos è tarde e jantarmos à noite. Os cachorros fazem o seu próprio tempo. Dormem quando sentem sono, comem quando sentem fome. Para quem não tem patrão ou assemelhado, isso é um aprendizado e tanto de vida. Ah, estou aprendendo inclusive a meditar com ela (ou sei lá o que fica pensando naqueles momentos assim, parada, olhando para o nada). E nunca deixa de dar a sua espreguiçada quando se levanta, o que equivale ao que os médicos mandam-nos fazer em alongamentos diários. Ativa a circulação, evita contusões gratuitas e dores pelo corpo.

Só não descuido da percepção social da história e chego a pensar que é a minha única vantagem com relação a ela.
PS: esta crônica tinha sido escrita poucos dias antes dela morrer.

Autor: José Cláudio - Cacá - Belo Horizonte/MG


Publicação autorizada pelo autor através de e-mail de 09/12/2011

Um comentário:

Patricia disse...

Adorei! E esse título ... Crio dois porquinhos da India e sei o que é conviver com animais. Quem pensa que a gente não aprende com eles, engana-se. Um abraço Cacá.