quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Novidades da Cidade Grande - Autor: Eurico de Andrade

João Geada. Velhinho roceiro. Morava no Pindura Saia, a umas três léguas de Santa Maria do Tabuí. Branquicento. Sistemático. Todo caladinho e muito trabalhador. E tinha que trabalhar muito, pois, na base do silêncio, conseguiu, com a sua Jandira, fazer quase uma dúzia de barrigudinhos. Tratar de toda aquela cambada não era fácil.

Certo dia velho Geada inventou de ir à capital. Visitar Bel'zonte vez primeira. Fazer umas comprinhas. Isso vinte ou trinta anos atrás. De trem de ferro. Achou tudo muito bom, muito importante, muito bonito. Cada predião danado. Povão medonho na rua. Uma carraiada de dar gosto. Tanto movimento que o velho Geada tava até ficando meio agoniado. Mas uma coisa deixou o nosso amigo muitíssimo impressionado: o picolé. Gostou exageradamente daquela pedrinha fria que derretia e que tinha um pauzinho enfiado no trazeiro. Chupou um, dois, uma dúzia.  De gostos e cores variadas.

- Ô trem bão, sô! Tem base não! Vô até levá uns pra Jandira e pros minino, uai! Imbruia uns vinte aí, ô moço!...

Saiu satisfeito com o pacote de picolés dentro de um saco, junto com os troços que tinha comprado e foi pra estação pegar o trem. Viagem de mais de cem quilômetros. Deixou o saco perto da porta do carro de passageiros e procurou um cantinho pra se sentar. Queimou um pitinho, deu umas proseadas com uma velha gorda que o espremia no canto do banco e um coque na cabeça dum neguinho que pisou no calo do seu mindinho do pé.

Numa certa hora, João Geada resolveu dar uma esticada nas pernas e foi ver se estava tudo em ordem com o seu saco de bugigangas. É claro que os picolés tinham virado água, molhando tudo que tava no saco, derretendo até o quilinho de açúcar que viajava junto. Tudo melecado e aquela água melada escorrendo. Velho Geada entendeu nada. Ficou foi brabo. E mesmo sendo um homem caladinho e tímido, não levava desaforo para casa. Foi por isso que, fulo da vida, gritou pra todo mundo ouvir:

- Cambada de viado fedaputa ! Além de chupá meus picolé ainda mijaro no meu saco!...
Autor: Eurico de Andrade – Brasília/DF
Publicação autorizada através  de e-mail de 25/11/2011

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Cronista é agredido por bêbados no Amazonas - Autor: Carlos Costa

         “Política no Amazonas está parada no tempo”, diz a manchete de um dos principais jornais que circulam em Manaus. Diante da triste constatação, pude compreender que os atrasos político e administratativo do Estado são os responsáveis pelos péssimos serviços prestados à população. O Estado inchou, é verdade,  mas a qualidade de seus serviços públicos, pararam no tempo.

         Todos os atuais políticos são remanescentes do grupo criado em 1982 por Gilberto Mestrinho, quando disputou e venceu ao Governo do Estado contra o candidato apoiado pelo Governo, Josué Filho. Mudaram de partidos, quase todos eles; mas continuam os mesmos políticos! Só Josué Filho, foi nomeado politicamente para conselheiro do Tribunal de Contas do Estado.

          Na realidade, é a constatação da “maldição da rodela”, tão bem definidida pelo ex-senador Evandro Carreira, depois que Gilberto Mestrinho anunciara que ele e seu grupo político  governaria o Amazonas por 20 anos. Já ultrapassou o tempo, os políticos  envelheceram, mas continuam os mesmos. A “maldição da rodela” enraizou,  se perpetuou e nunca gerou novos frutos políticos confiáveis como ocorreu em passado histórico bem recente e de imensa saudade.

          Devido a isso, a cidade cresceu, explodiu e pouca coisa funciona de forma satisfatória. Como exemplo cito: sábado à noite, dia 26, telefonei inúmeras vezes a partir das 17 horas, para o órgão municipal de meio ambiente, número 08000922000, denunciando um som altíssimo vindo da “Oficina do Carlito”, “Ferro Velho do Carlito”, ou “Sucatão do Carlito” ou “Laércio Guincho”  mas, quando atendiam, e se atendiam, informavam que já tinham recebido outras denúncias,  e as repassado  aos fiscais e restaria a todos os denunciantes aguardar.

          Como não aparecia ninguém do órgão de meio ambiente para resolver o problema, solicitei a dois porteiros de nosso prédio que fossem até ao local e solicitassem a redução do volume do som. Reduziram mas, todos bêbados e participando de uma festa, voltaram a aumentá-lo de novo. Novamente telefonei inutilmente mais cinco vezes para o 08000922000. Só que dessa vez ninguém mais atendia.

          Desci e me dirigi, com um dos porteiros de meu prédio, até ao local de onde vinha o som, momento em que fui agredido com um tapa no rosto por um dos bêbados da festa. Diante disso, telefonei várias vezes para o 190 da Emergência (Polícia Militar) e ouvia sempre a mesma gravação: “No momento, todos nossos atendentes estão ocupados. Aguarde”. E a musiquinha chata para quem estava com uma emergência tocava, a ligação sempre caia e não era transferida para qualquer pessoa!

          Acionei um amigo, coronel PM da reserva. Ele conseguiu contato direto com a central da PM. Uma pessoa fez contato comigo e me avisou”esteja na portaria de seu prédio quando a viatura chegar”. Desci pelo elevador, ainda ouvindo o trepidar do barulho da música. Esperei a viatura por mais de 40 minutos e, quando já estava desistindo, apareceu a viatura com dois policiais dentro. Ao se dirigirem  ao local, o som estava elevadíssimo ainda. Pediram para baixá-lo e, diante da polícia, baixaram. O órgão de meio ambiente, porém, só apareceu no local às 20:30 hs, ou seja, para atender a uma denúncia registrada pouco mais das 17 horas, quando não havia mais som, porque os policiais da PM pediram e conseguiram reduzir o barulho.

         O Jornal “A Crítica” de hoje, 27.11.2011 tem razão! O Amazonas parou no tempo mesmo, literalmente! Se o telefone 190 de Emergência já é assim, imaginem os outros que não são de “emergência”, como é que devem estar?

Autor: Carlos Costa - Manaus/AM

Publicação autorizada através de e-mail de 28/11/2011

domingo, 27 de novembro de 2011

A inspiração - Autor: Ciro Fonseca

          Cá estou eu diante de uma tela em branco tentando arranjar assunto para uma crônica que fosse interessante, diferente, engraçada, bem no estilo do Jabour, que eu já disse mais de uma vez que sou fã de carteirinha e taxa de manutenção em dia. Mas, o danado do prato principal que é o assunto, o objeto da crônica, não consigo vislumbrar no mais escondido recanto da minha mente.

          Eu tenho uma técnica, que geralmente não falha, recorro ao velho e bom Dicionário, e folheando-o escolho uma palavrinha para dar o ponta pé inicial ao que eu gostaria de dizer, e a palavrinha que eu escolhi, foi casa. Vocês vão me perguntar? Casa, porque casa? E eu respondo, também não sei, bolas, mas foi a palavra que eu escolhi, assim meio como um acaso, e lá vai o que diz o Aurélio sobre essa palavra: Casa: “Qualquer construção, da mais humilde à mais suntuosa, destinada a habitação humana.” Isto é apenas um dos significados que encontrei, quando procurei a palavra no dicionário. Os verbetes são longos e tem um que diz assim: “Período de tempo, geralmente limitado a dezenas de anos; faixa: Ele já está na casa dos sessenta anos”. Pô, cara como é que ele adivinhou?

          Mas eu digo bem do alto da minha vasta experiência, que casa é o lugar onde a gente se encontra, onde a gente encontra tudo que quer e precisa, a tesoura, o orégano, o livro, os ingredientes para fazer um sanduíche bem maluco. A casa é onde a gente pode andar de olhos fechados, de luz apagada. A casa é a cama sempre pronta para descansar as costelas, casa é o repouso, o silêncio. Na falta da casa que é essa, podemos brincar de casinha no meio do mundo. Desde que haja silêncio. O silêncio é uma casa sem paredes. Alguém já disse isto, eu acho que sem pensar muito bem.

          Mas quem te falou que uma casa é silenciosa sempre? Tem dias que a cama range, o colchão resfolega, o chuveiro grita friamente por um novo, a roupa suja reclama no cesto o esquecimento, o texto não escrito, o macarrão não cozinhado, até o sono atrasado vira pesadelo.

          Tem certos dias, que a gente sente vontade de virar bicho do mato, porque diante de tanta coisa, tanto barulho, ser bicho do mato é ser mais do que meia velha esquecida dentro do sapato.

          E é justamente neste ponto da crônica, que se tenta achar uma frase de efeito, inteligente e engraçada para dar o toque final; Aquele toque, que deixa a pessoa que tem a paciência de ler, satisfeita por ter perdido o seu tempo.

          Já perceberam que estou enrolando, porque ainda não saiu nada que preste dentro dessa cachola, e ai, eu uso o recurso mais sacana da língua portuguesa, termino com uma frase que não é minha, e também não faço a menor ideia de quem seja e diz mais ou menos assim: Eu falo a língua de quem se desespera e depois amansa, sem desacreditar que a vida é poliglota, e que nos entende e atende mesmo quando a estranhamos.

           Bacana não. Tem bastante estilo, e pelo menos deu pra terminar.

Autor: Ciro Fonseca - Rio de Janeiro/RJ
Publicação autorizada através do e-mail de 10/10/2011

sábado, 19 de novembro de 2011

Adão & Eva - Autor: Carlos Lopes

               E não foi que naquela localidade sem telefone, sem sinal de televisão, onde sequer existia uma simples banca de revistas, que alguém resolveu ir de encontro a moral e aos bons costumes? Isso aconteceu lá pela metade dos anos setenta, quando a ditadura existia, mas em Iracema, dela ninguém sabia notícias.

              Material retirado para compor livro

O cronista - Autor: José Cláudio - Cacá

             O cronista é um entornista. Não entenda como aquele que entorna. É um neologismo que uso para explicar que é aquele que vive no entorno dos fatos mesmo participando deles. Se o poeta é um irmão das coisas fugidias como disse a Cecília Meireles, o cronista é um parente bem próximo também.

             A maneira de cada um aproveitar os eventos da vida pode ser singular. Há os que gostam dos olhos e outros que gostam do olhar. Por exemplo, outro dia a minha filha me pediu que a levasse ao Mineirão. O sonho dela era entrar lá e assistir a um jogo de futebol do Cruzeiro. Enquanto ela torcia nervosa, gritava, esperneava e roia as unha, minha atenção estava mais voltada para a “ôla”. Acho uma maravilha aquela onda humana coreografada sem ensaio. Não dá errado, ninguém sai da harmonia. A mesma coisa eu observava com relação às músicas e bordões cantados em uníssono por uma metade do estádio e respondidos pela outra metade logo em seguida numa espécie de desafio de rimas não muito líricas nem elogiosas, às vezes até impublicáveis, de corar faces mais pudicas. Parecem corais afinadíssimos de tenores, baixos e barítonos. E hoje em dia ficou ainda mais bonito com o crescente número de mulheres nos estádios, acrescentando sopranos e contraltos. Sem contar o fato do enfeite que elas dão no meio daqueles marmanjos.

              Em festas, bailes, feiras, shows e outros eventos menos alegres, como velórios e hospitais o  cronista costuma ter um desvio de conduta. Muita gente diz que ele está ali calado, parecendo ausente, outros que ele está dando atenção apenas a uma pessoa ou a um acontecimento específico mas para mim ele está é recolhendo matéria prima. Dificilmente sai do lugar sem um esboço mental do que vai colocar no papel. E se for dos que carregam seu bloquinho de rabiscos, esboça ali mesmo, indo ao banheiro, saindo do aglomerado, ou anota em atitude pública, às vezes tachada de maluquice ou suspeita de um infiltrado. Vai colocar o que as pessoas que estavam presentes só de corpo não notaram e que ele observou com o espírito perscrutador. Acaba fazendo depois uma outra fotografia, captando ângulos e trejeitos que máquina fotográfica ou filmadora nenhuma conseguiu. Estará completado então o registro alegre ou triste.

Autor: José Cláudio - Cacá - Belo Horizonte/MG

Publicação autorizada pelo autor através de e-mail de 10/10/2011 

Porque escrevemos, segundo George Orwell - Cantares alheios (IX)


Aparte a neces­si­dade de ganhar a vida, penso haver qua­tro gran­des moti­vos para escre­ver, segu­ra­mente para escre­ver prosa. Exis­tem em dife­ren­tes graus em cada escri­tor, e no mesmo escri­tor vari­a­rão com o tempo, e de acordo com a atmos­fera em que ele está a viver. São eles:

1. Puro egoísmo. O desejo de pare­cer esperto, de ser falado, de ser recor­dado depois da morte, de con­se­guir a des­forra dos adul­tos que nos des­pre­za­ram na infân­cia, etc., etc. É ridí­culo fin­gir que isto não é um motivo, e forte. Os escri­to­res par­ti­lham esta carac­te­rís­tica com os cien­tis­tas, artis­tas, polí­ti­cos, advo­ga­dos, sol­da­dos, empre­sá­rios de sucesso – em suma, com a camada supe­rior da huma­ni­dade. A grande massa dos seres huma­nos não são pro­fun­da­mente egoís­tas. Depois dos trinta anos aban­do­nam quase por com­pleto o sen­ti­mento de indi­vi­du­a­li­dade – e vivem ape­nas para os outros, ou dei­xam sim­ples­mente abafar-​​se pelas suas labu­tas. Mas há tam­bém a mino­ria de pes­soas dota­das, espe­ran­ço­sas, que estão deter­mi­na­das a viver as suas vidas até ao fim, e os escri­to­res per­ten­cem a esta classe. Os escri­to­res sérios, devo acres­cen­tar, são de forma geral mais vai­do­sos e egoís­tas que os jor­na­lis­tas, embora menos inte­res­sa­dos no dinheiro.

2. Entu­si­asmo esté­tico. A per­cep­ção da beleza no mundo exte­rior, ou, por outro lado, nas pala­vras e na sua pre­cisa dis­po­si­ção. O pra­zer do impacto de um som em outro, da fir­meza da boa prosa ou do ritmo de uma boa estó­ria. O desejo de par­ti­lhar uma expe­ri­ên­cia que se con­si­dera de valor, e imper­dí­vel. A moti­va­ção esté­tica é muito débil em inú­me­ros escri­to­res, mas mesmo um pan­fle­teiro ou um autor de manu­ais terá pala­vras favo­ri­tas e fra­ses que lhe ape­lam por razões não uti­li­tá­rias; ou pode ainda ser sen­sí­vel à tipo­gra­fia, ou à lar­gura das mar­gens, etc. Acima do nível dos horá­rios dos com­boios nenhum livro está com­ple­ta­mente livre das con­si­de­ra­ções estéticas.

3. Impulso his­tó­rico. O desejo de ver as coi­sas como são, de des­co­brir os fac­tos verí­di­cos e preservá-
​​
los para uso da posteridade.

4. Pro­pó­sito polí­tico – usando a pala­vra “polí­tico” no seu sen­tido mais lato. O desejo de empur­rar o mundo numa certa direc­ção, de mudar as ideias das pes­soas sobre o tipo de soci­e­dade pela qual devem lutar. Mais uma vez, livro algum está livre de uma ten­dên­cia polí­tica. A ideia de que a arte não deve ter nada a ver com a polí­tica é, em si mesma, uma ati­tude política. 

Encontrei o texto acima no Uai, mundo? O blog do Cacá. Que, por sua vez, o achou no blog do João Nunes. Que, por sua vez, foi quem o traduziu do original.


Texto extraido a partir do blog: Casal 20 - Região do Araguaia/MT

http://casal20ribas.blogspot.com/
http://mulheresabias.blogspot.com/

Noça Curioza Lingüa #1 - Autor: Osiris Duarte de Curityba

sedo (cedo ou tarde) sedo ... cedo sedo ou sedo tarde – Duas dentre várias serão as interpretações:
1 – cedo ou tarde, ele (ou ela) cederá, quer dizer, mais dia menos dia, cederá, ipso fato.
2 – ela (ou ele), cederá, ou cedo ou tarde, quer dizer, ela (ou ele) cederá, ou de manhã (cedo) ou, cederá à tarde.

não aponte a ponte e não aponte a ponte Simples, a frase pede que a ponte não seja apontada, porém informa que a ponte não deve ser apontada. É que o primeiro verbo refere-se a apontar (indicar), e o segundo (verbo) se refere a apontar (no sentido de fazer uma ponta), o que não deve ser feito com a ponte.

o dispositivo o diz positivo – Também de fácil conclusão, pois o dispositivo (indica) ou “diz” positivo. Pôs-se diz entre aspas, porque o dispositivo não o dizia efetivamente positivo, porque qualquer dispositivo, para dizer positivo, há que ter um aparelho fonador ou um dispositivo que dissesse positivo, através de um sistema positivo de gravação, o que não era o caso, pois ele (o dispositivo) não o disse, ou seja, só indicou, positivo.

é nocivo, noviço nocivo no viço, né — É o caso de um nipo-brasileiro, que afirma ser nocivo, um noviço nocivo no viço. Não se trata de uma cacofonia, tampouco um pleonasmo, porém o primeiro nocivo é genérico e o segundo nocivo, refere-se especificamente ao noviço, que o era nocivo, independentemente de ser noviço, com o agravante do referido noviço estar no viço. Outrossim, experimente ler esta frase de trás para frente e letra por letra, adaptando os cês cedilha ... e terás também o mesmo ou um outro nipo-brasileiro, com sua pronúncia típica, a falar uma frase palindrômica, né ...
Autor: Osiris Duarte de Curityba/Portugal
Publicação autorizada através de e-mail de 15/11/2011

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Memórias da minha infância - Autor: Nêodo Ambrósio de Castro

             Naqueles tempos, ainda uma criança de pouco mais de 7 anos, via tudo de um jeito diferente. Os adultos pareciam muito grandes. As ruas, eram como avenidas e as casas, tinham sempre uma  aparência de casarão, isso me  fazia parecerem maiores do que realmente eram. Assim foi, para mim, o jeito de ver as coisas.

              Nasci em uma comunidade que, na época, parecia uma cidade, mas era apenas uma parada de trem, com um certo progresso que já vai longe (ou melhor: já foi), mas tinha um aspecto de pequena cidade , onde todos se conheciam e estavam sempre juntos em tudo. Haviam festas de São João, com fogueira, quadrilha de crianças e adultos, casamento na roça. Nesse dia eu aproveitava, tudo era alegria, uma alegria diferente, coisa que não tinha no dia a dia. Acontecimentos de festa mesmo.

               Assistia missa. Essa minha cidade – parada de trens – não tinha padre, mas tinha uma Igreja muito bem organizada e mantida muito limpa e conservada pela dona do lugar. Sim, o lugar tinha um dono, pois tudo ficava nas terras de um fazendeiro poderoso da região e a sua esposa, como quase todas da época, era uma pessoa dócil, dedicada e vivia para as coisas do lar, o que na ocasião era muito comum.

               Que bom acompanhar a procissão com roupa nova segurando vela na mão e cantando os hinos religiosos próprios para a ocasião.

               Na noite anterior, já havia rolado a fogueira e as brincadeiras. As barraquinhas eram o charme da festa, cada qual com suas iguarias deliciosas . Eu sempre pedia de tudo. Não ganhava, mas pedia. Mas no último dia da festa após a procissão havia o leilão, isso sim, me deixava com água na boca de tanta coisa gostosa que arrematavam. Eram tantas guloseimas arrematadas, que as pessoas, às vezes precisavam de ajuda para levarem para casa. Minha família mesmo, arrematava pouco, a gente vivia uma vida simples, mas tínhamos de tudo, não precisávamos de nada, minha mãe achava que levar para casa, por levar, não era nenhuma vantagem. Por isso só levava o que precisava. Não arrematava, simplesmente, para ostentar.

                Essa foi a minha primeira infância. Nada de especial, a não ser quando ia para o sítio da minha avó materna. Aí era bem diferente. Minhas tias estavam sempre me cobrindo de mimos e eu aproveitava. Me lembro do leite que tomava, tirado do diretamente do peito da vaca para a minha caneca de lata, onde já tinha o café, cuidadosamente, o “retireiro” Nelson, propositalmente, fazia espuma com o leite dentro da caneca de café. Parecia que dava um sabor especial ao café com leite. Me lembro das tachas de melado fervendo, onde meus tios cozinhavam o inhame que comíamos de manhã. Me lembro do engenho rodando amassando a cana de onde extraiam a garapa para fazer a rapadura. Quando a rapadura secava e era tirada para o depósito, sobravam pequenas porções que eles chamavam de raspas. Havia os passeios a cavalo, sempre puxado por um dos tios. Coisa de 20 ou 30 metros, mas para mim era uma viagem.

                Não esqueço da venda do meu tio (esse, irmão de meu pai), e também do balanço feito por um empregado que não guardo o nome. Balanço feito de caixote de madeira, vazio. Mas era das minhas primas, não me deixavam brincar. O tio Antônio matando um boi e cortando a carne. Meu outro tio matando um porto. Minha avó assando broa na folha de bananeira no forno enorme que havia no terreiro da casa. Entre tantas outras coisas. Essa parte foi muito agradável, a melhor.

                Aos sete anos, foi necessário mudar, pois tinha que iniciar os estudos no grupo escolar. Custei para me acostumar com aquela enormidade de cidade, na época menos de 5 000 habitantes. Mas tinha um grupo escolar. Uma Igreja com vários padres, um seminário e ruas calçadas, com luz elétrica durante o dia (novidade já que na outra localidade, a tínhamos somente à noite), um jardim, muito bem cuidado, com muitas flores e um chafariz, onde a meninada se reunia à noite para brincar.

                Na escola, quando comecei, minha inocência de roceiro se manifestou de uma forma não muito agradável. Por não entender os princípios aplicados à disciplina da escola, transgredia as normas sem maldade, mas era castigado como se as tivesse planejado, dolosamente. Minhas pequenas transgressões me valeram bons puxões de orelhas e algumas varadas nas pernas. Outras vezes pancadas na cabeça com uma régua que mais parecia uma taboa de construção. As professoras eram sádicas, faziam questão de descer a lenha nos alunos. Bastava um olhar para o lado ou uma distração, para ser trazido de volta à realidade com um daqueles golpes, quase mortais, de réguas de 50 cm. Nunca entendi, porque professora tinha as unhas tão grandes e fortes e mantinha sobre sua mesa uma régua daquele tamanho.

                Minhas aventuras pela escola não pararam por aí. Foram muitos atritos com colegas, os quais, inevitavelmente, terminavam  na troca de socos e chutes. Chegar em casa com o olho roxo, significava encrenca. Minha mãe não agradava muito da aparência. Então era contemplado com mais varadas e castigos.

                Mas encarava tudo como normal e necessário. Apanhar quando criança, muitas vezes, nos livra de situações embaraçosas no futuro, quando já crescidos. Parece que ficava mais experto e saia da zona de litigio com maior desenvoltura e segurança. Acho que se tornou experiência. Encarava como um aprendizaido e ainda menino, naquela época,  já me sentia mais seguro que muito adulto de hoje.

                Para mim, tudo transcorria normalmente, para os padrões muito rígidos da época. Não posso considerar os tombos, os "galos" na cabeça, cortes que me deixaram cicatrizes e furos nos pés, ora por espinhos de laranja ou mexerica ou pregos enferrujados em algum pedaço de madeira deixado por algum adulto desavisado. Todos passavam por isso. Já havia acontecido com meus pais e tios.

                Aos 13 anos tive que ir para o colégio interno. Não durou muito, mas foi uma experiência inesquecível. Nos tempos de exército, não sei bem porque, mas me lembrei muito dessa época.
               No internato, tudo era contado e muito bem controlado. Os horários inquestionavelmente me torturavam, pois sempre era advertido por atrasos. Se atrasasse para o banho, era anotado, se chegava ao refeitório alguns segundos atrasados ganhava mais uma anotação.

                Quando conseguia permissão para sair à rua – aos sábados e domingos era permitido – tinha hora certa para sair e para voltar. Atrasos não eram tolerados. O castigo era sempre a proibição de sair assim como perder o horário de lazer, quando disputávamos uma partida de futebol (uma pelada) no campo já quase sem grama do colégio. Cada anotação valia uma falta, uma falta significava ficar sem o lazer daquele dia, duas nos deixavam fora, também, no dia seguinte e assim por diante, até o limite de 7 faltas que me valia o castigo de ficar preso na sala de estudos, de castigo no fim de semana.

                Nos fundos do colégio passava um rio, mas era proibido nadar, mesmo quando insistíamos em nadar às escondidas, éramos, fatalmente apanhados. Tinha sempre um chefe de disciplina rondando as margens e flagrando os atletas da natação.

                Se esquecíamos de trancar a mala, que era um grande baú ou o armário, sempre desaparecia alguma coisa. Não adiantava reclamar com ninguém. A primeira lição era manter tudo trancado e a chave pendurada por uma cordinha no pescoço. Qualquer descuido era fatal.

                Marcávamos as brigas com horário e local. Afinal dois alunos atracados no pátio ou nos corredores acabava em expulsão. Todos nós sabíamos que nossos pais não eram muito simpáticos à esse acontecimento o que o tornava muito constrangedor. Por isso marcávamos no banheiro, onde um dos alunos mais velhos e maiores fechavam a porta e assistiam de camarote a peleja dos menores. Nessas pinimbas, os chefes de disciplina não intervinham, nem mesmo para assegurar a integridade dos menores. Era cada um por si.

                 As aulas de educação física eram sempre ministradas antes do horário habitual de aulas. Nos dias normais, levantáva às 6 horas, tomáva café às 6:30 e às 7 horas esta dentro da sala de aulas. Nos dias de educação física perdía uma hora. Levanta às 5 da manhã e o restante do horário era, totalmente, o do cotidiano. Nada mudava, apesar dessa disciplina ser obrigatória, não era ministrada no horário das aulas, ou seja, madrugada. Mas para os alunos externos, a educação física era feita, no período da tarde, após a última aula do dia. Só os internos tinham o privilégio de levantar às 5:00 da manhã para praticar atividade física. Esta era uma das atividades que tive, em comum, no exército. Levantar de madrugada para praticar ginástica.

                  Passado esta fase, voltei para a minha cidade que, nessas alturas já tinha um ensino ginasial, e os alunos que estudavam fora da cidade começaram a voltar para casa. Mas nem todos tiveram essa sorte. Alguns permaneceram nos internatos de cidades próximas. Só vindo em casa nas férias ou nos feriados mais prolongados.

                  Assim, vivi e sobrevivi à minha bela e agradável infância.

Autor: Nêodo Ambrósio de Castro - Eugenópolis/MG

Publicação autorizada através de 15/11/2011

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

¨O bicho foi trigui¨- Autora: Zélia Maria Freire

             Hoje, por aqui, eu vou dar uma de árabe,  contarei uma histórinha que não é minha, mas  como dizem lá os valentes, o contador não tem menos valor do que o autor; quem recolhe a história que ouviu poderá narrá-la, e o mérito recai principalmente sobre quem conta . Contudo, vamos ser justos.  A autora é a escritora Gilda Moura, conhecida por estas bandas como uma excelente trovadora e  minha colega da Academia de Letras.

              Vamos ao caso, que me faz lembrar as amigas Hull de La Fuente, Milla Pereira e Marina Alves, que gostam do gênero.

              Seu Zé era um peão  pra lá dos sessenta, de poucas falas, que tinha fama de  adivinho  entre os seus colegas de obra,  todos os dias fazia sua fezinha no jogo do bicho e  quase sempre acertava.  Sabedor dessa façanha, o engenheiro-chefe mandou chamar o Zé em seu gabinete.

               Meio sem graça o peão ajeitou-se  todo e entrou.


               - Boa tarde, dotô
               - Boa tarde.
               - Seu Zé, qual foi o bicho de hoje?
               - Foi trigui, dotô.
               - E o senhor sonhou com o quê?
               - Sonhei caquela padaria ali.
               - E o que é que tem a padaria com o tigre?
               - E o pão num é feito de trigui!

                         *******************

               E aí escritora Nena Medeiros, esta você não conhece, pois não? Digo isto porque embora não leve muito jeito para piadas, vez por outra invento de contar uma pra Nena, só que ela conhece todas e ao invés de largar  no final um kkkkkkkkkkkk, ela diz secamente:  JÁ CONHEÇO. E a mané aqui, apesar de ficar  sem graça, é quem acaba rindo.

Autora: Zélia Maria Freire – Natal/RN

Publicação autorizada através de e-mail de 30/10/2011

O jornal eletrônico - Autor: Jonny Silva

              Duas semanas se passaram desde o meu último texto, as tentativas de escrever um novo continuam infrutíferas, amigos me pedem que volte, ela me pede que não volte, e ás tantas nem sei o que fazer. Dou uma leitura de leve pelas noticias online do dia, e fico sabendo que o Nobel da literatura é sueco (o prêmio ficou em casa) - um tal de Tomas Tranströmer. Ao mesmo tempo em que lia o nome, engatilhei seu apelido com o filme Transformer, só depois de uma segunda leitura mais a fundo é que percebi que afinal o senhor não se transforma, mas que acaba de receber o tão agraciado Nobel da Literatura. Mesmo que eu quisesse discernir sobre ele, seria como dar um tiro no escuro, confesso que nada conheço deste senhor. Por isso, e por nada, acabo por despachar esta notícia como quem pega o correio e joga suas cartas em cima da mesa. Viro a página do jornal e deságuo em meu Portugal profundo; parece mentira... mas ainda continuo privilegiando os jornais portugueses em detrimentos dos brasileiros, talvez seja um hábito, quiçá um Vício, ou então uma maneira de estar mais próximo dos meus. Faz hoje, dia 14 de Outubro de 2011, precisamente três anos que deixei meu país, ao longo deste período sinto que muita coisa aconteceu a ambos.

             O saldo no meu caso é positivo, já no que toca ao meu país é negativo: a crise é mais crise, a política é menos política, os amigos são menos amigos, a família diminuiu, as saudades aumentaram, e o risco de derrocada social é uma constante. Apesar de tudo, e parafraseando Lobo Antunes “Eu gosto desta terra. Nós somos feios, pequenos, estúpidos, mas eu gosto disto”.

Autor: Jonny Silva – Rio de Janeiro/RJ
Publicação autorizada pelo autor através do e-mail de 31/10/2011

terça-feira, 8 de novembro de 2011

No meu tempo era melhor - Autor: Nêodo Ambrosio de Castro

                 Em algumas ocasiões, repetimos: "no meu tempo era diferente".
                 E era mesmo.
                 Era para nós.
                Não precisávamos de televisão, o tempo de que dispúnhamos para o lazer, gastávamos brincando de pique - esconde, as meninas de "roda" e logo, nossas mães nos mandavam para a cama, onde dormíamos o sono dos justos.
                Não precisávamos de computadores nem de videogames, pois jogávamos futebol, nos campinhos improvisados ou até mesmo nas ruas. Fazíamos torneios de bolinhas de good. As meninas brincavam de pular amarelinha e de casinha, com suas enormes bonecas.
                Estávamos sempre correndo, nunca íamos ao médico para conferir os triglicérides ou colesterol. Não sofríamos de depressão. Na escola, tínhamos a hora do recreio. Não gastávamos nosso tempo na cantina comendo frituras e tomando refrigerantes. Brincávamos o tempo todo até que o sino nos chamavam de volta às salas de aulas.
                Merenda? Para que? Quando muito levávamos uma fruta de casa e a comíamos durante a aula, escondido da professora, assim aproveitávamos melhor a hora do recreio para brincar.
                Nos fins de semana não íamos para os clubes e piscinas onde vamos nos dias de hoje, comer churrasco e tomar cerveja e refrigerantes. Nossa piscina era o rio. Nadávamos no rio, pois suas águas, ainda, eram puras, correntes e despoluídas. Não adquiríamos doenças de pele, tão comuns nas piscinas de hoje.
                Também não sofríamos de doenças respiratórias, pois respirávamos ar puro e não éramos sedentários. Tínhamos ossos fortes e músculos resistentes.
E a educação?
                Recebíamos uma educação rígida de nossos pais. Não havia moleza. Nossas camas eram arrumadas de manhã e só eram desfeitas na hora de dormir. Não existia sesta nem cochilos. Quando não estávamos estudando ou fazendo alguma tarefa doméstica, estávamos correndo e brincando.
                Por que não gostar e ter saudades daquele tempo?
Hoje crianças nessa idade vivem presas dentro de apartamentos onde passam um terço do seu tempo diante da televisão, outro terço jogando videogame e o restante na frente do computador. Exercício físico? Nenhum. Até para ir à escola, se não são levados pelos pais, têm transporte escolar.
                No intervalo das aulas correm para as cantinas e consomem todo tipo de guloseimas industrializadas repletas de gorduras, conservantes e todo tipo de química prejudicial à saúde.
Vão ao médico com muita regularidade, pois precisam controlar o colesterol. As crianças estão adquirindo doenças cardiovasculares, cada vez mais precocemente.
 Não são tão saudáveis como as crianças de 50 anos atrás.
                Mas torcem o nariz quando fazemos referência ao "nosso tempo".
Precisam trocar a televisão pela bola. Andar mais de bicicleta ou simplesmente correrem brincando de pique esconde. Nem sabem o que é isso. Mas internet, jogos virtuais, sites de relacionamentos, conhecem todos.
                E mais cedo ainda começam a freqüentar os consultórios. Médicos, para atender a tanta demanda, está em falta. No meu tempo, em minha cidade, havia somente um médico, o qual, atendia além da nossa comunidade, a cidade vizinha e ainda a área rural. Não havia muito para ele fazer. Conseguia até ajudar a comunidade em outras atividades, pois havia certa ociosidade em sua função de médico.
                Dizem, a nova geração, que falar disso é saudosismo.
                Mas é verdade. Saudosismo de ser saudável, de não portar, prematuramente, doenças de idosos, de não estar acima do peso antes da hora. Saudosismo das peladas nos campos improvisados. Das brincadeiras noturnas. Do sono profundo e reparador, sem ajuda de calmantes. Pressão alta era coisa de idoso. Colesterol? Não me lembro de ter ouvido esse palavrão e triglicérides, então? Acho que nem saberíamos pronunciar, não faziam parte de nosso vocabulário. Era conversa de adulto e de idoso.
                Então? Que tal o nosso saudosismo? Saudável?

Autor: Nêodo Ambrósio de Castro – Eugenópolis/MG
Publicação autorizada pelo autor através do e-mail do dia 25/10/2011

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Pânico no supermercado - Autora: Anabailune

                Tarde de sábado (ontem). Meu marido e eu estávamos em um supermercado em Itaipava, e tínhamos terminado de encher o carrinho com as compras do mês. Aguardávamos na fila do caixa, enquanto nossas compras eram colocadas em caixas de papelão. Chovia muito lá fora, e estávamos próximos às portas de entrada.

                 De repente, como um rio desgovernado, vi quando uma enorme multidão veio correndo de dentro do supermercado em nossa direção, gritando e chorando. Meu marido, instintivamente, disse para mim: "Abaixe-se! Deve ser um assalto!" Ficamos abaixados junto ao caixa, enquanto pessoas passavam por nós, algumas pulando por cima dos caixas. Crianças gritavam, mulheres choravam. Olhei para o rosto da moça que estava nos atendendo, e só vi confusão e pânico. Ela gritava o nome de alguém, pois queria saber o que estava acontecendo.

                 Foi tudo bem rápido, antes que soubéssemos que tinha sido um botijão de gás vazando na cozinha da padaria que causara um princípio de incêndio; alguém em pânico gritou:"Vai explodir!" e causou toda a correira. Vimos a fumaça negra, ouvimos um passante dizer que uma funcionária tinha se queimado um pouco, e logo depois, o alto-falante anunciou que a situação estava sob controle.

                  A funcionária continuou empacotando nossas coisas, e tudo foi voltando ao normal, aos poucos.

                  Mas foi a primeira vez em que me vi em uma situação de pânico real no meio de uma multidão, e não foi nada agradável! Em apenas alguns minutos, dezenas de coisas diferentes passaram pela minha cabeça: apesar da proximidade das portas de entrada, pensei: "Será que vou morrer com uma bala perdida?" E ao ver a fumaça: "Vai explodir tudo, e ficaremos aqui, aos pedacinhos?"  Flashes das manchetes de jornal do dia seguinte passaram diante de meus olhos: "Fogo em supermercado deixa dezenas de mortos e centenas de feridos", e eu, no meio de uma das categorias. É tão fácil morrer!

                  Na hora "H", ninguém pensa em nada: o instinto de sobrevivência grita bem mais alto, e a reação é correr, correr para fora, para o mais longe possível do perigo, pisoteando outros pelo caminho, se necessário, mas sair correndo. Percebi que mesmo aqueles que tem idéias suicidas, teriam a mesma reação diante de um perigo real.

                  Pensei no como deve ser horrível viver em um destes países nos quais você está calmamente (?) andando pela rua, quando de repente, ouve uma explosão e a cabeça de alguém vem parar no chão à sua frente, e os prédios começam a ruir ao seu redor. Ou quando se mora em uma favela, e um tiroteio começa, e você precisa deitar-se no chão e rezar para  que você e seus entes queridos não sejam atingidos por uma bala perdida, e que os bandidos não metam o pé na sua porta e façam você e sua família de reféns.

                   Pela primeira vez na vida, estive no meio de pessoas totalmente em pânico, vi seus rostos, ouvi seus gritos, e senti o vento de seus corpos passando bem perto de mim, enquanto elas corriam.
Foi assustador.

Autora: Anabailune - Petrópolis/RJ

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Blog: Ana Bailune - Liberdade de Expressão
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Publicação autorizada pela autora através de e-mail de 18/09/2011