domingo, 18 de março de 2012

Catando coquinhos - Autora: Maria Olimpia

Na  verdade os coquinhos não passam de nozes de macadamia, originárias da Austrália, mas quando os encontrei sendo vendidos na rua achei-os tão bonitinhos que decidi comprar. Antes, experimentei um e gostei. De macadâmia eu só conhecia sorvetes e bombons sempre deliciosos.

Os tais coquinhos são vendidos tendo por medida o litro, no caso uma lata vazia de óleo de cozinha, como eram vendidas as jabuticabas antigamente. Acho até que foi por isso que os comprei – pela nostálgica lembrança.

Os vendedores carregam as nozes em um carrinho de mão e junto uma pedra bem sólida onde as colocam para firmar. Depois pegam um martelo e dão uma martelada bem forte em cada noz e as distribuem as pessoas na rua, até aos desdentados, o que é uma crueldade.

Perguntei-lhe como eu iria fazer em casa para abrir a noz e ele respondeu: Pegue uma bacia um martelo e sente-se na calçada com seu marido e peça a ele para ir quebrando para você. Não tendo marido nem braço forte e nem pedra solida, nem calçada  sentável, seria uma temeridade comprar, mas arrisquei. Se não conseguir, deixo-as enfeitando uma fruteira qualquer, pensei.

Colocados dentro de um saco plástico fui fazer o que tinha que fazer, carregando-os. E volta e meia um e outros despencavam pela borda do saco indo ao chão: e lá ia eu catar coquinhos, equilibrando minha bolsa, minha pasta executiva e o resto dos coquinhos.

Acho que fiz uma boa compra porque segundo informações seríssimas da Folha de São Paulo, elas retardam o envelhecimento, protegem o sistema cardiovascular além de reduzir os níveis de colesterol no sangue. Já é produzida no Brasil, sétimo produtor mundial desde a Bahia e estende seus galhos até o Uruguai. Chegou por aqui vinda da Califórnia. Não dá muito trabalho para colher porque os frutos caem sozinhos da árvore, o que torna uma chuva de macadâmia muito perigosa. Apesar de que a árvore é linda e enfeita com classe e elegância qualquer bom quintal – O grande problema é que demora demais para produzir, mas depois que começa não para mais. São conhecidos espécimes com mais de um século de idade e ainda em alta produtividade.

Mas catar coquinhos mesmo acabei catando foi em casa: peguei o martelo, uma mão cheia de coquinhos e fui para o quintal. Resolvi firmá-los na escada de cimento que liga as duas partes do quintal e não deu outra: a cada martelada um coquinho voava longe. Depois de catá-los todos, resolvi devolver para a fruteira e esperar um braço forte aparecer para eu tomar a minha poção mágica contra o envelhecimento.



Autora: Maria Olimpia Alves de Melo - Lavras/MG

http://marilim.net/
http://vidasetechaves.wordpress.com/

Publicação autorizada pela autora através de e-mail de 12/03/2012

Um comentário:

Celêdian Assis disse...

Olá, Maria Olímpia! Gostei muito de seu texto, pois além de informativo, aborda outras vertentes sucintamente, como a falta de um braço forte e talvez a esperança de se ter um; a eterna busca por coisas que não nos deixem envelhecer; não poder sentar-se na calçada como as pessoas faziam naturalmente antes e creio que se deve à insegurança e falta de liberdade de hoje e subtende-se também certo humor na expressão popular "vá catar coquinhos". Enfim, um texto rico e interessante.
Um abraço
Celêdian