sexta-feira, 22 de junho de 2012

Criador X Criatura - Autor: Ciro Fonseca

No momento estou lendo um livro de Stephen King, chamado “LOVE”, este livro tem nada mais nada menos que 542 páginas. E eu fico a pensar de onde o autor consegue tirar tanta inspiração. Quanto tempo, quanto suor imaginativo, o escritor deve ter despendido até considerar a sua obra criativa como terminada.

Tem gente que ainda acha que escrever é coisa de preguiçoso, de quem não tem nada mais produtivo para fazer. É claro que eu estou falando de escritores consagrados, aqueles que debruçam em cima de um texto e só sossegam depois que eles criem corpo e alma. A minha pequena experiência a respeito do exaustivo desafio de escrever, é que a relação entre o sujeito e o texto, nem sempre é amistosa, muito pelo contrário, aqueles que pensam que escrever é um ato rotineiro, e não implica num enorme esforço para encontrar a inspiração.

É um verdadeiro trabalho braçal para desenvolver as ideias e aprimorar o texto. É preciso ir fundo em si mesmo, encontrando meio e modos de colocar no papel, desculpem no computador, as suas verdades e observações próprias. Escrever é uma forma de meditar, de exercitar o pensamento, deixar que ele flua livremente pelos recônditos mais íntimos de sua mente. Quem deseja escrever não deve pensar no sucesso e sim nas pessoas com quem seu texto vai se identificar, muitos ou poucos, não importa.

Existem algumas situações em que o texto em construção fica sob absoluto controle, como se a gente dissesse, olhe aqui, quem manda em você sou eu! Você vai fazer aquilo que eu te ordenar, mas nem sempre isso acontece, às vezes, o texto fica insubordinado, assume ares de pura arrogância e ganha alma própria, e se nega a entregar-se ao seu controle. Vez ou outra eu tenho vivido com esse constrangimento aqui em casa. O meu computador é testemunha muda desta humilhante situação, e para provar o que eu digo, existem nele vários textos rebeldes, incompletos, que fincaram pé e se negaram a serem concluídos e ficaram no meio do caminho, numa pasta de minha máquina, que eu chamo de incubadora.

Apesar dos pesares, escrever é um ato de entrega, é a arte de dar forma ao que se agita no limbo de sua mente criativa, é o fluir boêmio de pensamentos e ideias.

“E como já dizia o nosso Arthur da Távola: “Escrever bem, não é repetir o que já foi escrito: é servir-se do que já foi dito para dizer pela primeira vez. É surpreender o lugar comum como a um inimigo e libertar a verdade que lá jazia, prisioneira da repetição. É ser novo e inaugural no que é velho e comum ao ser”.

Fico satisfeito quando alguém se atreve a ler as bobagens que eu costumo escrever (e talvez por pura educação), as elogia. Muitas vezes eu acerto, e o texto sai completo e toma vida própria, como um filho. Mas, paciência, por que...

Um dia é do escritor e outro é do texto.


Autor: Ciro Fonseca - Rio de Janeiro/RJ

Blog do autor: http://cirofons.blogspot.com/
http://www.recantodasletras.com.br/autor.php?id=98617
Publicação autorizada pelo autor através de e-mail em 28/11/2011

2 comentários:

Celêdian Assis disse...

Olá, Ciro!

Eis ai um primoroso texto e que cumpre perfeitamente o objetivo do autor de criar a identificação no leitor. Gostei muito!

Certa vez fiz um dueto com um amigo (Dueto da criação), em prosa poética, sobre também o mesmo tema, o criador e a criatura e nele abordamos todo este processo em que se envolve o poeta, na sua criação e que vem de encontro ao que você expõe brilhantemente em seu texto.
Um abraço.
Celêdian

Casal 20 disse...

Ciro, realmente, este teu texto saiu completo! Amei as divagações sobre a escrita, a arte de escrever. Aliás, acho delicioso textos em que os autores versam sobre essa labuta do escritor com a palavra. Já leu o "Tabuleiro de Damas" do Fernando Sabino? É um livro sobre essa descoberta de ser leitor e escritor, um livro sobre a formação literária dele. Muito bom! Enfim, achei teu texto maravilhoso e o digo sem a menor educação rsrsrs Parabéns!

Sobre esta labuta, já escrevi também, se quiser dar uma olhadinha: http://casal20ribas.blogspot.com.br/2012/03/dia-nacional-da-poesia-1403-minha.html

Abraços sempre afetuosos.

Fábio.