segunda-feira, 3 de novembro de 2014

Um estranho fim de viagem

Autora: Maith

O avião estava lotado. A viagem era longa e os passageiros, cada um a seu modo, procuravam passar o tempo mais agradavelmente.
Alguns admiravam a paisagem que se descortinava ao longe, outros liam absorvidos, outros conversavam ou se mantinham calados.
Alguns estavam calmos, outros ansiosos como uma passageira que tentava em vão disfarçar seu pavor pela altura naquela sua primeira viagem aérea.
Um garoto a cada dez minutos pedia para a mãe levá-lo ao toalete. Na verdade o que ele queria era levantar-se, amolar a mãe e incomodar a senhora que se sentava a seu lado.
As duas mulheres acabaram se apresentando, conversando, tornando-se quase amigas
Uma mocinha que viajava só logo entabulou conversa com o rapaz a seu lado. Atração mútua que lhes propiciou uma viagem mais agradável.
Um senhor de idade espalhou-se na poltrona e dormiu tranquilamente.
Tudo parecia normal. Um voo como muitos outros que faziam aquela rota atravessando o Oceano levando os passageiros para o outro lado do Mundo.
Ao aterrissar, porém, os passageiros surpreenderam-se ao ver que eram desembarcadas dezenas de urnas mortuárias trazendo os restos mortais das vitimas do acidente acontecido na véspera e maior ainda foi o assombro ao tomarem consciência de que aqueles eram os seus próprios despojos.
Na verdade aqueles corpos sem vida já não lhes pertenciam, iam ser sepultados enquanto eles continuavam vivos.
E agora? Para onde ir? Que fazer?
A bagagem! Todo passageiro tem a sua bagagem, mas eles não tinham nada para retirar.
Só então tomaram consciência de que não estavam vestidos, mas também não estavam nus.
Tudo lhes parecia agora muito confuso. Lembravam-se vagamente do acidente, mas como foi que aquilo aconteceu? O avião despedaçou-se, todos morreram e eles continuaram a viagem tranquilamente sem nada perceber?
Tentaram conversar, trocar ideias, mas não conseguiram. Ninguém parecia ouvi-los
Os dois jovens, que estavam se entendendo tão bem, agora não pareciam falar a mesma língua, aliás, ninguém conseguia se comunicar cada qual entregue ao seu próprio desespero diante do absurdo da situação.
Mãe e filho desesperados não conseguiam achegar-se. Porque agora tudo era tão estranho? Era como se cada qual procurasse por si mesmo. Que coisa incrível!
Aos poucos, porem, foram se distanciando uns dos outros, se perdendo em si mesmos e acabaram desaparecendo no infinito.
E tudo que restou cá na Terra foi uma corriqueira e triste notícia:
Um avião despedaçara-se no chão depois de sofrer uma pane, e as famílias chorando seus mortos e lamentando a fragilidade da vida e a insegurança que rodeia todos nós.


Autora: Maith - Sorocaba/SP




Publicação autorizada pela autora

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