Autora: Maith
O avião
estava lotado. A viagem era longa e os passageiros, cada um a seu modo,
procuravam passar o tempo mais agradavelmente.
Alguns
admiravam a paisagem que se descortinava ao longe, outros liam absorvidos,
outros conversavam ou se mantinham calados.
Alguns
estavam calmos, outros ansiosos como uma passageira que tentava em vão
disfarçar seu pavor pela altura naquela sua primeira viagem aérea.
Um garoto a
cada dez minutos pedia para a mãe levá-lo ao toalete. Na verdade o que ele
queria era levantar-se, amolar a mãe e incomodar a senhora que se sentava a seu
lado.
As duas
mulheres acabaram se apresentando, conversando, tornando-se quase amigas
Uma mocinha
que viajava só logo entabulou conversa com o rapaz a seu lado. Atração mútua
que lhes propiciou uma viagem mais agradável.
Um senhor de
idade espalhou-se na poltrona e dormiu tranquilamente.
Tudo parecia
normal. Um voo como muitos outros que faziam aquela rota atravessando o Oceano
levando os passageiros para o outro lado do Mundo.
Ao
aterrissar, porém, os passageiros surpreenderam-se ao ver que eram
desembarcadas dezenas de urnas mortuárias trazendo os restos mortais das
vitimas do acidente acontecido na véspera e maior ainda foi o assombro ao
tomarem consciência de que aqueles eram os seus próprios despojos.
Na verdade
aqueles corpos sem vida já não lhes pertenciam, iam ser sepultados enquanto
eles continuavam vivos.
E agora?
Para onde ir? Que fazer?
A bagagem!
Todo passageiro tem a sua bagagem, mas eles não tinham nada para retirar.
Só então
tomaram consciência de que não estavam vestidos, mas também não estavam nus.
Tudo lhes
parecia agora muito confuso. Lembravam-se vagamente do acidente, mas como foi
que aquilo aconteceu? O avião despedaçou-se, todos morreram e eles continuaram
a viagem tranquilamente sem nada perceber?
Tentaram
conversar, trocar ideias, mas não conseguiram. Ninguém parecia ouvi-los
Os dois
jovens, que estavam se entendendo tão bem, agora não pareciam falar a mesma
língua, aliás, ninguém conseguia se comunicar cada qual entregue ao seu próprio
desespero diante do absurdo da situação.
Mãe e filho
desesperados não conseguiam achegar-se. Porque agora tudo era tão estranho? Era
como se cada qual procurasse por si mesmo. Que coisa incrível!
Aos poucos,
porem, foram se distanciando uns dos outros, se perdendo em si mesmos e
acabaram desaparecendo no infinito.
E tudo que
restou cá na Terra foi uma corriqueira e triste notícia:
Um avião
despedaçara-se no chão depois de sofrer uma pane, e as famílias chorando seus
mortos e lamentando a fragilidade da vida e a insegurança que rodeia todos nós.
Autora: Maith - Sorocaba/SP
Publicação autorizada pela autora
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