sábado, 31 de maio de 2014

Texto: 30 (do concurso) - As aventuras de ¨A Fábrica¨

Quando eu era pequena, tínhamos muitos cães em casa, e não consigo lembrar-me de alguma fase de minha vida em que eles não estivessem presentes - a não ser, assim que eu me casei, pois moramos em apartamento por sete anos. Mesmo assim, tinham os cães de minha irmã, com quem eu brincava quando a visitava.
Houve um tempo em que uma das cadelas era apelidada de "A Fábrica", que era o título de uma novela que passava na falecida Rede Tupi (pronto! acabo de revelar a minha idade!). Bem, demos este nome a ela porque A Fábrica sempre tinha muitos filhotes de uma só vez, que nós doávamos para os vizinhos.
Ela era uma enome vira-latas preta, e tinha uma peculiaridade, ou seja, duas: a primeira, é que ela sabia sorrir. Logo que nos via, arreganhava os dentes, abanando a cauda. Era só a gente pedir: "Fábrica! Ri!" E lá vinha ela, dentes de fora, toda faceira.
A segunda peculiaridade (acreditem ou não) é que ela... voava! Não, não é lorota, não! Ela voava mesmo, por cima da plantação de bananeiras e depois, ainda passava pelos galhos mais altos de um bambuzal, que lhe amparavam a queda. Bastava que ela visse uma galinha. Era campeã de Caça às Galinhas da Dona Teresa!
Também... a Dona Teresa era uma folgada, que mesmo sabendo que todos os vizinhos tinham cachorros em casa, deixava suas galinhas soltas pelo terreiro, e elas sempre acabavam indo parar no meio da rua ou no terreno de outros vizinhos. Era sempre a mesma história: a Fábrica escutava um cacarejar no morrinho (lugar onde brincávamos quando crianças, logo acima de nossa casa e da plantação de bananeiras e bambus de meu pai) e corria atrás. Não tínhamos como segurá-la, pois ela parecia totalmente possuída por alguma força atávica incontrolável.
A galinha, na tentativa de salvar-se, voava desajeitadamente por sobre as bananeiras, e A Fábrica, que jamais desistia, voava atrás dela, lá de cima do morrinho.
Daí, escutávamos um agoniado "Cóóóó..." e lá vinha A Fábrica, com a pobre coitada na boca.
Na manhã seguinte, lá vinha a Dona Teresa perguntar: "Ruth (minha mãe), não viu uma galinha carijó por aí não?" E minha mãe, com ar distraído: "Não... por que, sumiu?"
Mas acho que a Dona Teresa acabou descobrindo sobre o paradeiro de suas galinhas, pois um dia, A Fábrica amanheceu morta: envenenada...

4 comentários:

Anônimo disse...

A originalidade do nome já valeu o conto inteiro. Ainda mais que sorria e voava. Quem é que pode resistir? Me envolvi por completo. Parabéns. Marina Alves.

Jussara Burgos disse...

É para pensar sobre a maneira que algumas pessoas agem. Se dona Teresa prendesse suas galinhas a Fabrica iria continuar produzindo e fazendo seus donos felizes. Suas galinhas não podiam morrer mas ela se achou no direito de tirar a vida da cadela. Comovente e real. Adorei o conto. Infelizmente nem toda história tem final feliz. Parabéns.

Anônimo disse...

(Padrão usado em todos os textos comentados para dar a todos um tratamento igual). Fazendo pois uso dos critérios apontados no regulamento, deixo aqui minha impressão: ortografia, gramática e pontuação: se há erros graves desta natureza não percebi durante a leitura. Notei um outro detalhe que pode ter escapado à revisão, coisa pouca. Relato que proporciona uma leitura agradável e conduz a um desfecho talvez não tão esperado pelo leitor, e triste para o personagem. Parece estar bastante de acordo com a proposta do concurso (observando o requisito de demonstração de afeto pelo animal), porém não cabe a mim julgar esta questão, apenas deixar um comentário sobre os textos. Avaliação pessoal: entre bom e muito bom. Parabéns à autora ou ao autor e boa sorte! (Torquato Moreno)

Alberto Vasconcelos disse...

Texto bom. Linguagem direta e atraente na construção das imagens da historia com desfecho surpreendente e dentro dos parâmetros do concurso. Pode ser melhorado em alguns trechos. Parabéns a quem o produziu.