quarta-feira, 6 de agosto de 2014

De volta para o aconchego

Autora: Conceição Gomes

Cá estamos de volta para o Brasil, Paraná e Curitiba. É gratificante ouvir o nosso sotaque, ver a nossa gente tão igual e tão diferente ao mesmo tempo...Foi muito bom ter contato com outro país, foi nossa primeira vez.  Gold Coast, onde ficamos, é um pedaço da Austrália, a Costa Dourada. Já falei de quase tudo o que me foi possível observar, mas estou no meu aconchego. Aqui estão as minhas raízes, a minha família, os meus amigos. Em outros tempos de minha juventude, talvez eu me aventurasse a morar em outro país, hoje não. Gosto da alegria do brasileiro, dos nossos sabores, da nossa diversidade. Gostaria muito que o nosso Brasil tivesse a qualidade de vida dos australianos, a segurança, a ordem, a igualdade social.   Asseguro que pelo menos em Gold, não vi pobreza, me pareceu até tudo muito igual, com exceção da marina onde ficam os barcos, iates, veleiros. Ali vemos a cara da riqueza escancarada, como diz um sobrinho meu. Há aspectos interessantes, impensáveis aqui no Brasil. Os supermercados não vendem bebidas alcoólicas. Há revendedoras exclusivas para isso e se há dúvida quanto a idade de um jovem que deseja comprar esse tipo de bebida, tem que apresentar o documento provando que é maior de idade. Farmácias não vendem quase nada sem receita, mas há um lado menos glamoroso nisso: há assalto para roubo de medicamentos com o objetivo de manipular drogas. Outra coisa, os australianos ruivos são discriminados veladamente. Há um termo usado para designar essas pessoas. Lá no Pará, quando víamos um branco de cabelo ruivo e ainda pixaim, chamávamos de sarará. É mais ou menos isso que designa os ruivos australianos. Os imigrantes -e são milhões- são a base das atividades que exigem mão de obra menos especializada. Os jovens de Gold, em sua grande maioria, não querem o trabalho braçal. Indianos, japoneses, chineses, brasileiros (Bahia, Minas, São Paulo, Santa Catarina, Paraná, Ceará...) formam a massa trabalhadora nos hotéis, bares, construção civil, pizzarias, atendentes em lojas etc... Mas se perguntamos se eles querem voltar, para seus países, a resposta quase sempre é não.  Um estudante que trabalha cerca de 50 horas semanais, em dois empregos, ganha cerca de 850 dólares por semana. É trabalho duro, mas eles dizem que vale a pena, então, que seus sonhos se realizem. Conhecemos uma jovem de Brasília que já conhece quase toda a Europa só com o que ganha como estudante. Não sei se dá para economizar, ela disse que sim. Para quem deseja aventurar-se a ir para a Austrália, tem de investir no inglês, deve ter coragem para trabalhar (a não ser que os pais banquem o sonho).

Como eu já disse, Gold Coast respira surf.  Vimos muitas crianças mal saídas das fraldas já com suas pranchas e os pais incentivando a prática.  Parece que quando elas nascem já vão dizendo: quero uma prancha. Aprender a surfar faz parte das aulas de educação física por lá.

Vou ficando por aqui, dizendo que estou feliz por estar no meu aconchego e já pensando em outro projeto de viagem, desta vez para a Europa, se Deus quiser.


Autora: Conceição Gomes - Curitiba/PR

Página da autora:

http://www.recantodasletras.com.br/autor.php?id=54344

Obs: relato sobre a volta para o meu Brasil em 2010.

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