segunda-feira, 28 de março de 2016

Preciso me casar

Autora: Conceição Gomes

Lucila, 25 anos, morena bonita de cabelos lisos e olhos cor de mel guardados por espessos cílios, ainda não conhecera o amor por um homem. É certo que quando passava por aquela construção, os peões mandavam calorosos fius-fius e ela não dava a menor atenção. Tinha seu ideal de homem que em nada parecia com aqueles operários. E em frente ao Corpo de Bombeiros então? Todos os dias, mesmo que trocasse de calçada, ouvia generosos galanteios. Mas, os soldados do fogo não lhe interessavam.  De vez em quando mudava de caminho e passava em frente ao mais famoso colégio da cidade. As vezes sentava-se no banco da pracinha do colégio, nas só rapazes muito jovens, que não se encaixavam no seu perfil. Ia ao cinema, pic-nic, quermesses da igreja, bailes dos clubes da cidade e nada de se encantar por nenhum dos moços que a ela se achegavam. O que há de errado comigo, pensava. Olhava-se no espelho e se achava mais do que bonita. De bikine, parecia uma sereia. No trabalho notava os olhares compridos dos colegas, especialmente do seu chefe, o senhor Nelson, mas nada lhe tocava o coração. Sua amiga Diana dizia que quando encontramos o amor da nossa vida, vemos estrelas, o coração agita-se como se estivesse afogando-se num rio bravo, que as pernas bambeiam,  que somos capazes de desmaiar de tanta emoção. Se nada disso sentia, como podia ser amor? É que seus sonhos estavam ligados aos romances açucarados de Madame Delly e outros dos livros da coleção Sabrina. Sempre que tinha tempo, alimentava seus sonhos nessas revistas.
Foi num certo final de semana. Diana convidou-a para uma regata do clube da cidade. Ao chegar no cais que amparava as águas da baia, ela o avistou! Lá estava ele, moreno, alto, musculoso, cabelos ao vento e belos olhos azuis.  Foi uma descarga de mil volts! O tempo fez-se estátua naquele momento e ela, completamente atordoada, não sabia o que fazer. Respirou fundo, contou até dez e um plano mirabolante surgiu em sua mente. Caminhou até o belo homem, fingiu olhar para as águas da baia e bem perto do seu Adonis, deu um jeito de torcer o pé e cair bem em frente dele. Tentou levantar-se mas não conseguiu, torcera o pé de verdade. Amélio, esse era o nome do moço, socorreu Lucila na hora. Quando os olhares se encontraram, estrelas brilharam, sinos ribombaram, anjos tocaram suas harpas, coração acelerou, o arco-íris apareceu sorrindo e o céu coloriu-se de rosas vermelhas...Fique calma, disse Amélio, vou levá-la ao pronto-socorro. E carregou Lucila nos braços até seu carro. Engessado o pé da nossa heroína restava levá-la até em casa, o que foi feito com muito gosto por Amélio. Seis meses depois estavam noivos e o casamento não demorou muito, ao som She, cantada por Charles Aznavour. Foram felizes para sempre.  

Autora: Conceição Gomes - Curitiba/PR

2 comentários:

Anônimo disse...

Muito bom. Texto direto, bem contado e de agradável leitura. Parabéns a quem o produziu.
Alberto Vasconcelos

marina Alves disse...

Como manda o figurino do amor, tudo nos conformes e seus devidos lugares. Uma história feliz que o próprio amor contaria orgulhoso de si mesmo. Parabéns!