sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016

Carnavalescas


Autor: José Bueno Lima

*Curitiba. Carnaval de 1958. Eu e o Pedro Martin estávamos na capital paranaense, a fim de prestar o vestibular de medicina. Ficamos por lá durante uns dois meses, desde o início de janeiro daquele ano. Tínhamos aulas de Física com um professor de origem alemã, o Max. Eram dadas na casa de um andreense, o Dr. Menotti Panunzzio, lá radicado há um bom tempo, representante da Rhodia e professor da Faculdade de Farmácia da Universidade Federal do Paraná. Desse modo, passamos o carnaval longe de Santo André, nós que éramos ferrenhos simpatizantes do Panelinha, que grandes carnavais realizava, juntamente com o rival Ocara. E, o que aconteceu, muito foi motivado pela nossa ausência, por não podermos estar em nossa cidade, participando, mesmo que apenas no apoio, daqueles maravilhosos momentos. Era o sábado dos festejos de Momo. A aula havia acabado no início da noite. O Pedro, bom de papo, comentava o fato de estarmos ausentes de Santo André, naquele dia, quando se realizaria o desfile. Quanto mais falávamos, mais intenso era o vazio, por não podermos estar lá presentes, depois de tanto envolvimento o ano todo com tudo o que se relacionava com a apresentação do Panelinha. Então, não sei como, até hoje não posso explicar, apareceu o lança-perfume. Sempre gostei de ter uma em mãos, nos bailes, no vaivém da Oliveira Lima. Somente para inocentes divertimentos. Nunca havia “cheirado”, como muitos amigos faziam! Nunca tinha ouvido o “sininho”, como eles definiam a sensação produzida pela aspiração do perfume. Então, como sempre existe a primeira vez, numa almofada do sofá onde estávamos, espirrei o líquido perfumado e aspirei. Foi um rápido devaneio, e ouvi as badaladas.
Depois, nunca mais. Mesmo porque, após uns dois ou três anos, o Jânio proibiu a fabricação e uso do produto.

*São Bernardo do Campo. Carnaval dos anos 40/50. A história foi contada pela Ivani Morais, no encontro mensal de memorialistas da cidade. Seu pai, o Gino, da pizzaria do mesmo nome, gostava de dar umas fugidinhas durante os folguedos de Momo. Na cidade, naquela época, havia poucos salões onde se realizavam os bailes.
O da Sociedade Italiana era um deles. Outro, ficava na indústria de móveis do Pelosini, na rua Marechal Deodoro, a principal da cidade, que o proprietário explorava especialmente para o fim. Certa ocasião, o folião Gino esteve nesse último, onde se divertiu “pra valer”. Rasgou a fantasia. Naqueles anos, era comum as famílias tradicionais frequentarem o cinema nas quintas, sábados e domingos. Dias após o carnaval, a mãe da Ivani foi ao cinema, e num dos documentários que antecediam o filme, passou a reportagem do baile acontecido no salão do Pelosini. E, não é que, para a surpresa dela, apareceu seu marido o Gino, pulando a mais valer. Ao chegar em casa, foi tirar satisfação com ele, que negou tudo, dizendo que não se tratava dele. Mesmo ela voltando ao cinema no sábado, para confirmar, ele continuou negando, dizendo ser alguém parecido. Era um sósia...!

*Santo André. Um carnaval dos anos 70. O Paulo Roberto Oliva, no sábado, saiu de casa dizendo para a esposa que ia buscar uma pizza para o jantar. Passou na pizzaria, provavelmente a Joia, ou a Queiroz, não sei qual delas, mas isso não vem ao caso.
Achando ser um pouco cedo, pensou e foi dar uma espiadinha no desfile de rua, naquele tempo acontecendo na Avenida Dom Pedro II. Parou bem no local da concentração das escolas. No momento estava para iniciar a apresentação a Estação Primeira de Camilópolis, presidida pelo amigo Aladino Pisaneschi, o Nenê. Conhecido de todo mundo, logo o Paulo se ambientou, e naquela altura, para “esquentar” e descontrair, os componentes da escola tomavam uns goles. Corriam solta a cachaça, o uísque, e outros. O Paulo, que não era de ferro, como ninguém é, entrou nos aperitivos, dizendo que era para abrir o apetite, pois, logo, estaria comendo a pizza. Como havia ainda algumas fantasias sem dono, os amigos insistiram com o Paulo, que fizesse parte do desfile, pois, na disputa pelos prêmios, a escola poderia perder pontos, se não houvesse número suficiente de foliões. Não teve jeito. Ele caiu na “gandaia”!
Chegou em casa de madrugada, bêbado, e, dá para imaginar como estava a pizza. 
JOSÉ BUENO LIMA é advogado, escritor, com três livros publicados, UM PASSADO SEMPRE PRESENTE, COMO SE FOSSE HOJE e CRÔNICAS E CONTOS DE UM SAUDOSISTA. Membro da Academia de Letras da Grande São Paulo – ALGRASP. Quer ler crônicas do Lima? Blog:buenolima.prosaeverso.net


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