quarta-feira, 8 de agosto de 2018

Entrevista: Alice Gomes

Alice Gomes 

¨Há quem acredite existir uma diferença entre escrever e ser escritor, porém se alguém tem ideias originais para criar boas histórias, se elas têm o potencial de despertar o interesse das pessoas; o autor desenvolveu a habilidade de prender o leitor em sua narrativa, da primeira palavra até o ponto final. Assim sendo, com certeza é um bom escritor! As palavras são um grande instrumento transmissor de ideias e pensamentos, com poderes de transformar o mundo em um lugar melhor e mais bonito".
A escritora Alice Gomes nasceu em Arapongas, no Paraná, residente em Porto Velho, Rondônia. Como a própria se define: Contabilista por profissão (aposentada), além de alguns trabalhos em outras áreas, e poeta por predestinação. Uma filha, três netas. Muito trabalho, pouca renda. Que já conheceu intimamente o lado mais doce e o mais vil do ser humano. Enfim, uma vida pessoal medíocre como a maioria dos brasileiros.

1-             Quando e como surgiu seu interesse pela leitura e escrita?
Alice Fomes - O interesse pela leitura foi através dos gibizinhos do Tio Patinhas, bem antes da escola. Pela escrita, na adolescência, quando percebi a possibilidade de ter um mundo só meu.
2-             Quais foram seus livros preferidos quando era criança e os livros favoritos atualmente?
Alice Gomes - Meu primeiro livro foi A Casa dos Sonhos, que ganhei aos sete anos da minha professora, por bom comportamento na sala de aula. A partir daí, todos os que pude ler na Biblioteca, aleatoriamente.  Na minha casa não havia livros e ninguém, exceto uma das minhas irmãs, me incentivou a ler e muito menos a escrever.  Sou um ponto fora da curva. Por ler de tudo um pouco aprendi sozinha a depurar o meu gosto literário. Hoje prefiro os autores portugueses. Apenas para citar um, gosto muito do Saramago.
3 - Quais escritores são suas fontes de inspiração?
Alce Gomes - Nenhum, em particular.
4 - De que forma o conhecimento adquirido, seja pelo senso comum, ou pelo meio acadêmico,  ajuda na hora de escrever?
Alice Gomes - Não falo de outra coisa que não venha do conhecimento empírico. Coisas que vivi ou vi, seja em prosa ou verso, sejam reais ou metafóricos. Eu penso que a vida é um constante aprendizado, venha de onde vier a teoria será sempre o nosso olhar quem estará em nossas palavras.
5- Segundo o escritor Rubem Fonseca, “a leitura, a palavra oral é extremamente polissêmica. Cada leitor lê de uma maneira diferente. Então cada um de nós recria o que está lendo, esta é a vantagem da leitura". É isso mesmo? Concorda com essa proposição?
Alice Gomes - Concordo, em parte. Como leitora eu busco sempre me aproximar ao máximo do que o autor quis, efetivamente, dizer. É claro que, à primeira leitura, buscamos sempre o nosso reflexo, baseados em nossas experiências, mas já aprendi a me policiar para não incorrer no mesmo erro que não gostaria de ver em relação aos meus escritos. Mas, Quintana já dizia que o autor pensa uma coisa, escreve outra e o leitor entende uma terceira...  O importante é conseguirem se comunicar de alguma forma  autor e leitor.
6- Ainda segundo o Escritor Rubem Fonseca: “um escritor tem de ser louco, alfabetizado, imaginativo, motivado e paciente.” É o suficiente para ser um bom escritor?
Alice Gomes - Sobretudo paciente, o que não sou mas deveria... rsrs Faltou aí a verdade. Dificilmente me interesso em conhecer mais textos de um autor quando  não senti  a sua verdade. Não que eu não goste dos loucos, eruditos, imaginativos e motivados, porém, já admirei textos que de loucos não tinham nada, já obtive grandes ensinamentos em textos coalhados de erros gramaticais, já chorei em textos absolutamente concretos, já senti empatia por linhas desconexas  de autores completamente desmotivados, mas, não contendo a sua verdade, serão meras palavras.
7 - Para qual público se destina sua criação?    
Alice Gomes - Para os meus iguais, quando e onde estiverem.
8 - Como funciona o seu processo de criação? Quais sãos suas manias (ritual da escrita)?
Alice Gomes - Não tenho processo, talvez por isso não escreva tanto quanto gostaria. Como já disse só escrevo o que me vem à cabeça e nem sempre o que me vem à cabeça pode ser escrito naquele momento, depois esqueço. As minhas maiores criações ainda nem comecei a escrever, justamente pela indisciplina . Não sei se posso classificar como mania, mas gosto de escrever ouvindo música, tv, e com duas ou três abas abertas no computador, tudo ao mesmo tempo.
9 - Em geral, os seus personagens são baseados em pessoas que você conhece, ou são ficcionais?
Alice Gomes - As minhas personagens são todas eu, inclusive as que eu nem conheço...rsrs
10- Você tem outra atividade, além de escrever?
Alice Gomes - Financeira, atualmente não. A minha atividade primordial é observar o mundo, escrevo só nos momentos em que me canso dele.
11 - Você faz parte das Coletâneas Gandavos. Qual a sensação de participar ao lado de escritores de várias regiões do país?
Alice Gomes - É uma grande oportunidade de aprender com outras culturas. Repito o que disse no prefácio do Encantadores de Histórias: Gandavos é um pequeno grande barco, do qual somos todos marinheiros, saídos um de cada porto do Brasil, com nossas  bagagens de vida, nossas experiências e influências, e  que ao final de cada viagem convergimos para o mesmo cais, trazendo na mala o sentimento de parceria, que somente quem compartilha sabe o valor que isso tem.
12 - O financiamento coletivo e a publicação independente têm se mostrado a opção das publicações Gandavos.  Quais são os pontos positivos e negativos desse tipo de publicação?
Alice Gomes - O ponto positivo é o baixo custo da nossa vaidade de ver publicado um texto ou dois em cada livro, já que individualmente é muito oneroso. O negativo (para mim) é o constrangimento de ter que votar e ser votado durante a fase de amostragem dos textos. 
13 – Você já fez publicação de livros sozinho, seja impresso ou virtual? Quais e como o leitor pode adquiri-los?
Alice Gomes - Eu tenho um e-book com alguns poemas, “A umas que sou nas almas que fui”, disponível para download gratuito no site Recanto das Letras, presente da minha amiga e editora Helena Frenzel.
14 - Qual mensagem você deixaria para autores iniciantes, com base em suas próprias experiências.
Alice Gomes - Escreva, sem receio. Aprenda com os seus erros, invente outros. Seja você mesmo, o mundo anda cheio de cópias. Mostre-se mas não se venda. E lembre-se: raros escritores são lidos enquanto vivos.

8 comentários:

Maria Mineira disse...

Alice Gomes foi/é uma colega de Recanto das Letras que se transformou em comadre e com certeza uma das minhas maiores incentivadoras, pois quando nem eu acreditava nos meus textos, ela fez até áudios deles, o que me deixou muito contente. Gosto muito de sua escrita e tenho enorme admiração pela pessoa que ela é. Bela entrevista, parabéns comadre Alice!

Anônimo disse...

Parabéns Alice pela franqueza das respostas que fizeram você mais próxima de todos nós. Parabéns Calos por mais essa bela iniciativa.

Alberto Vasconcelos
Santo André/SP, 08.05.2016

willes disse...

Como já disse em outras entrevistas, é bom que vamos conhecendo os autores que fazem parte do nosso barco da resistência! Sempre acrescenta algo ao meu saber!Abraço!!!

Anônimo disse...

Alice, parabéns pela sinceridade nas respostas da entrevista, podemos notar uma firmeza bem eloquente em suas palavras! Um abraço, Michele C.Marchese

Anônimo disse...

Obrigada, Carlos, pela oportunidade e o carinho de sempre. Comadre Maria Mineira, não te fiz favor algum, você sabe do seu talento. Agradeço ao Alberto, Willes e Michele pelas palavras gentis. Um abraço a todos.
- Alice Gomes -

Helena Frenzel disse...

Amei as suas respostas, Alice! Seus poemas falam muito comigo e exatamente pelo motivo que você colocou nesta entrevista: eles contêm uma verdade, são textos honestos com o leitor, textos que têm vida e sem pretensões outras que não o de serem eles mesmos... É uma alegria quando se lê os escritos de uma pessoa que já encontrou a sua própria voz. Um grande abraço e valeu pelo conselho no final.

willes disse...

Alice, Lá pelos idos de 1973/4 conheci Arapongas, fiquei um tempo lá a trabalho por um tempo. Um amigo meu de nome Uiraçú, de quem não tenho notícias, era o chefe dos correios...Gostava das ruas com nomes de pássaros. Nunca esqueço. Sua entrevista me avivou a memória. Abraço!

Anônimo disse...

carrosséis de fogo..pela desobediência...