segunda-feira, 13 de junho de 2016

Entrevista: Ana Bailune

        

A literatura é a possibilidade de expandir através das letras, seja em verso ou prosa, emoções, pensamentos e sensações.
        O bom escritor tem domínio sobre a linguagem escrita e detém o dom de manter as sutilezas da percepção original acerca de fatos ou pensamentos.
        O que admiro em Ana Bailune é justamente essa qualidade fundamental.

Nasci em setembro de 1965, em Petrópolis. Tenho três irmãs e um irmão. Meus pais são falecidos. Sou casada há 25 anos, e não tenho filhos. Adoro minha casa, o lugar onde eu moro e minha cidade. Amo escrever e ler. Amo cachorros (tenho dois) e todo tipo de animais (exceto aranhas), e adoro ficar perto da natureza, especialmente de árvores e montanhas, riachos entre pedras e lugares frios. Adoro borboletas, pássaros e joaninhas. Adoro fotografar. Amo a solidão, o silêncio e a paz de espírito. Não acredito em muitas amizades. Relaciono-me com poucas e selecionadas pessoas. Sou de libra, meu elemento é o ar, e não poderia ser diferente: amo voar, amo aviões. Sou crítica, e às vezes, um pouco ácida. Odeio mentiras.

Blog Gandavos: 1- Quando e como surgiu seu interesse pela leitura e escrita?
Ana Bailune - Desde muito cedo. Minha mãe costumava ler histórias para mim na hora do almoço (ou eu não comia). Depois, ela comprou-me cartilhas de alfabetização, e com sua ajuda, aos cinco anos de idade eu já sabia ler e escrever. Desde então leio tudo o que passa na minha frente, desde bulas de remédio, manuais de instrução, livros de vários estilos, reportagens, etc...

Blog Gandavos: 2 - Quais foram seus livros preferidos quando era criança e os livros favoritos atualmente?
Ana Bailune - Bem, quando eu era criança, após terminar a primeira série primária, em 1971, ganhei de presente da “Tia Tânia” um livro chamado “As Aventuras da fada Cacetinha”, de Virgínia Lefévre. Este tornou-se meu livro favorito, e em seguida, “Alice no País das Maravilhas”, de Lewis Carrol. Já adolescente, li e fiquei muito impressionada com “Uma Arma Para Johnny”, de Dalton Trumbo. É um terrível relato sobre um soldado ferido de guerra. Também adorei “Floradas na Serra”, de Dinah Silveira de Queiroz e “O Sol é Para Todos”, de Harper Lee. Já adulta, vários livros me marcaram, como por exemplo, “O Convite”, de Oriah Mountain Dreamer, “Memórias, Sonhos e Reflexões”, de Jung,“ A Criança Roubada”, de Keith Donohue (amo), e todos de Cecília Meirelles e Fernando Pessoa. Há muitos, muitos mais, mas eu passaria horas citando-os... porém, não posso esquecer-me de “Cidadela” e “O Pequeno Príncipe”, de Saint-Exupéry, e “Ilusões”, de Richard Bach.

Blog Gandavos: 3 - Quais escritores são suas fontes de inspiração?
Ana Bailune - Desde muito cedo, ler Cecília Meirelles me inspira muito. Sinto uma empatia muito grande com os pensamentos dela. É como se ela fosse uma fonte de água fresca para mim.

Blog Gandavos: 4 - De que forma o conhecimento adquirido, seja pelo senso comum, ou pelo meio acadêmico, ajuda na hora de escrever?
Ana Bailune - Acho que, para escrever sobre determinados assuntos, é essencial conhece-los bem, o que demanda estudo e muita dedicação e pesquisa. Porém, quando se trata de poesia, o conteúdo não vem de conhecimento adquirido, mas de nossas experiências de vida – coisas bem pessoais mesmo -, pensamentos e principalmente, sentimentos. Não me prendo em rimas, métricas e estilos, deixo correr solto da veia para o papel, pois acho que poesia não é fórmula. Também não ligo muito para erros de gramática, e desdenho completamente a reforma ortográfica. Concordo com Patativa do Assaré, que disse: “Melhor escrever a coisa certa da maneira errada do que a coisa errada da maneira certa.” Meus poemas são inspirados em fatos reais da minha vida, coisas que vejo, perdas, tristezas e alegrias também. Mas é claro que às vezes são pura fantasia. Já quando escrevo contos, eu não me perco em detalhes que acho chatos e desnecessários e que encompridam a história, como descrições detalhadas de cidades, casas e roupas. Gosto de ir direto ao assunto, e 99% do tempo, as cidades nas quais meus personagens vivem são fictícias. Confesso que tenho muita preguiça de pesquisar.

Blog Gandavos: 5 - Segundo o escritor Rubem Fonseca, “a leitura, a palavra oral é extremamente polissêmica. Cada leitor lê de uma maneira diferente. Então cada um de nós recria o que está lendo, esta é a vantagem da leitura". É isso mesmo? Concorda com essa proposição?
Ana Bailune - Concordo total e plenamente! Um exemplo: certa vez, escrevi um poema chamado “Somos Irmãos”, que falava justamente de meu relacionamento com meus irmãos. Uma pessoa, ao lê-lo, declarou: “Adorei! Ele fala exatamente de tudo o que está acontecendo no mundo neste momento!” (Era a época do 11 de Setembro). Já tive muitos problemas na internet devido a poemas que publiquei e pessoas me atacaram achando que eu os compus para elas. Na verdade, quando isso acontece – escrever um poema pensando em alguém – eu normalmente ponho o nome da pessoa em questão, ou então deixo bem claro sobre quem estou falando.

Blog Gandavos: 6 - Ainda segundo o Escritor Rubem Fonseca: “um escritor tem de ser louco, alfabetizado, imaginativo, motivado e paciente.” É o suficiente para ser um bom escritor?
Ana Bailune - Acho que principalmente “louco.” A imaginação não funciona muito bem nas pessoas ditas ‘normais.’

Blog Gandavos: 7 - Para qual público se destina sua criação?
Ana Bailune - Nunca pensei nisso... acho que para quem gostar e quiser ler.

Blog Gandavos: 8 - Como funciona o seu processo de criação? Quais sãos suas manias (ritual da escrita)?
Ana Bailune - Não sigo nenhum. As coisas vêm à minha cabeça, sento-me e escrevo-as da maneira como aparecem. Quando uma história me aparece com princípio, meio e fim, eu me sento para escrever e, em determinado ponto, ela muda totalmente de direção, como se os personagens me dissessem: “Hey! Deixa a gente contar!” E quando isso acontece, eu não interfiro. Escrever para mim é diversão, e portanto, a parte chata (corrigir erros, revisar, etc...) eu deixo para lá. Se eu fosse uma profissional das letras, certamente teria alguém que cuidasse desta parte para mim.

Blog Gandavos: 9 - Em geral, os seus personagens são baseados em pessoas que você conhece, ou são ficcionais?
Ana Bailune - Pergunta perigosa, mas vou tentar explicar: Às vezes, um personagem meu pode ter características de várias pessoas que conheço, ele é uma colcha de retalhos. Porém, outras vezes ele é apenas ficção, alguém que se autocria, cuja personalidade vai surgindo ao longo do texto. Em meu último conto, “O Anjo no Porão” (publicado em meu blog Histórias de Ana Bailune), eu me baseei nas histórias que minha mãe me contava sobre seu passado, sua infância, sua família. Mas nem todos os personagens foram baseados em fatos reais, e há muita ficção também no enredo. Minha mãe realmente foi criada em colégio interno, ela realmente perdeu a mãe muito cedo, meu avô era mesmo muito mulherengo, as irmãs de meu avô foram baseadas nas irmãs reais, embora suas histórias de vida sejam apenas ficção.

Blog Gandavos: 10 - Você tem outra atividade, além de escrever?
Ana Bailune - Sou professora de inglês, e dou aulas em casa, isto há mais de onze anos. Além disso, cuido eu mesma da minha própria casa (não tenho empregadas), o que me ocupa grande parte do tempo, e escrevo em vários blogs e sites na internet. Meu dia é cheio de atividades, e ainda caminho uma hora por dia pelo menos quatro vezes por semana. Nas horas vagas, brinco com meus cachorros, leio muito, escuto muita música e fico lá fora, no jardim.

Blog Gandavos: 11 - Você faz parte das Coletâneas Gandavos. Qual a sensação de participar ao lado de escritores de várias regiões do país?
Ana Bailune - Acho muito emocionante, bacana mesmo, foi algo que a internet nos proporcionou e eu recebi com todo carinho. Acho que você, Carlos Lopes, é corajoso, arrojado e muito empreendedor.

Blog Gandavos: 12 - O financiamento coletivo e a publicação independente têm se mostrado a opção das publicações Gandavos. Quais são os pontos positivos e negativos desse tipo de publicação?
Ana Bailune - Bem, quando publicamos coletivamente, nem sempre o trabalho individual se destaca. Mas se pensarmos bem, da mesma forma acontece quando investimos para publicar individualmente, pois nos dias de hoje, são muitos autores, e a publicação virtual, seja em blogs, sites ou e-books, por exemplo, abriu as portas para todos os anônimos, fazendo com que nos percamos neste mar imenso de autores, bons e ruins, que surgem a cada segundo. Antigamente, ser publicado significava ser necessariamente muito bom. Hoje, nem tanto. Vemos totais absurdos aparecendo a todos os instantes, e muitas vezes eu penso que no futuro, ninguém será lembrado.

Blog Gandavos: 13 – Você já fez publicação de livros sozinha, seja impresso ou virtual? Quais e como o leitor pode adquiri-los?
Ana Bailune - Publiquei um livro impresso de poemas, “Vai Ficar Tudo Bem”, esgotado. Virtualmente, todos os livros que publiquei, inclusive o primeiro, em edição revista e ampliada – contos, crônicas e poemas – estão disponíveis gratuitamente aos leitores da amazon.com.br. Basta digitar Ana Bailune na busca do site, e todos eles aparecerão listados. Podem ser lidos em computadores, smartphones, tablets ou nos leitores de livros virtuais, principalmente, o Kindle.

Blog Gandavos: 14 - Qual mensagem você deixaria para autores iniciantes, com base em suas próprias experiências.
Ana Bailune - Escreva. Nem sempre você se tornará famoso, e provavelmente, não se tornará; pode ser que você seja criticado, que receba e-mails anônimos falando da sua falta de talento, ou então você poderá ser atacado e ridicularizado por anônimos ou não-anônimos; mesmo assim, escreva. Pode ser que você passe horas caprichando em um texto para que alguém vá até o seu blog, e publique o seguinte comentário: “Lindo e reflexivo! Visite-me em meu site/escrivaninha/blog.” Mas um dia, alguém vai realmente ler alguma coisa que você escreveu, e você saberá que aquela pessoa valorizou o seu trabalho. Um exemplo: aqui na minha cidade, já me reconheceram na rua duas vezes; a primeira, na loja da operadora Claro: o atendente pediu meu nome para executar o serviço, e quando eu disse, ele sorriu: “Ah, então você é a Ana Bailune? E há apenas alguns dias, eu caminhava na rua quando fui parada por uma mulher que disse acompanhar-me na internet e adorar as coisas que eu escrevo. Apesar de não ganhar nada, financeiramente, com as coisas que eu escrevo, estes momentos são gloriosos. É durante eles que eu compreendo porque eu escrevo.


7 comentários:

Carlos A. Lopes disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Carlos A. Lopes disse...

Na minha eterna bagunça doméstica, por pouco deixei de publicar a entrevista da Ana Bailune. Seria lastimável, sou fã da escritora. Obrigado pela entrevista, Ana. Quero registrar o meu pedido de desculpas, pelo atraso na publicação dessa obra prima. Ana, além do seu talento natural, soma-se um tanto de independência, tempero vital e necessário à boa literária. Um abraço.

Unknown disse...

Parabéns Ana por sua bela trajetória de vida colaborando de forma significativa com a literatura brasileira!

willes disse...

Gostei da entrevista. Bem esclarecedora. Cada autor possui sua própria história e vivências que, quando compartilhada, nos integra e enriquece devido a pedagogia existente nelas. Abraço!

Ana Bailune disse...

Obrigada, Carlos, muito obrigada.

Anônimo disse...

Gostei muito da sua entrevista, assim como gosto muito do que escreves!! Beijos
Michele C.Marchese

Anônimo disse...

Há pessoas que, mesmo nunca as tendo visto ou falado com elas, nos parecem conhecidas de longas datas, quase familiares. Assim é o que seus escritos me inspiram Ana, principalmente agora, lendo suas respostas, pude até ouvir o som da sua voz, com o sotaque serrano do Rio de Janeiro. Loucura? Talvez. Melhor creditar à licença poética... abraço

Santo André/SP, 27 de junho de 2016
Alberto Vasconcelos