Através da ex-empregada Rosa chegou às
mãos de Silvia, um bilhete de Marcos, nele o rapaz afirmava que ia partir para
a capital, pois, não conseguia tirá-la do pensamento, mas antes queria pelo
menos um beijo seu. De coração partido Silvia respondeu através de outro
bilhete, que o melhor mesmo seria ambos esquecer que um dia se conheceram.
Arrasado o rapaz vagava sem rumo pela cidade, saiu do emprego se entregou
completamente ao desprezo, deixou a barba e cabelo crescerem abandonou tudo até
a boemia ele baniu de sua vida. Sua mãe uma lavadeira que foi abandonada pelo
marido o criando sozinha com muitas dificuldades, já não tinha mais saúde para
sustentar a casa. Começaram a passar privações, faltava tudo em casa. Silvia
quando tomou conhecimento da situação, procurou um amigo, que também era amigo
de Marcos do tempo de escola e o pediu para ajudá-lo. Deus sempre é
providencial, e na mesma tarde daquele dia, Sergio o encontrou na rua por
acaso, não o reconheceu. Marcos o cumprimentou pelo nome.
– Me conhece de onde rapaz?
– Sou Marcos estudamos juntos não se
lembra de mim?
– Não acredito o que está acontecendo
parece um mendigo, que bicho te mordeu? Não é você aquele galã disputado pela
mulherada desta cidade?
- Era meu amigo =, não sou mais!
– Entre no meu carro vou levá-lo a sua
casa!Marcos recusou Sergio se esbravejou insistiu e ele obedeceu, chegou a casa
sua mãe demonstrou uma alegria enorme com a atitude do amigo.
- Eu não tenho nem um simples café a
lhe oferecer seu moço, mas saiba que a partir de hoje o colocarei em minhas
orações para o resto da vida, eu já nem sei o que fazer com esta criatura.
Abandonou tudo até a maldita bebida que nos causou problemas à vida inteira ele
deixou de vez, mas do que valeu se transformou neste espectro de gente a perambular
sem rumo pelas ruas enchendo-me de preocupações! Está pior que um palhaço
apupado pelos moleques de rua.
Sergio era filho de um rico fazendeiro,
convenceu Marcos a se mudar com a mãe para fazenda de seu pai. Sem nenhuma
prática na lida da roça, ele enfrentou sérias dificuldades até se adaptar, mas
estava disposto a enfrentar o que desse e viesse pela frente, e provar a si
mesmo que era possível mudar.
Não tardou se revelou um eficiente
empregado, a mãe trabalhava como domestica na cozinha da fazenda e passaram a
ser considerados como os melhores empregados, ela como cozinheira e ele na lida
do gado não deixavam nada a desejar.
- Quem te viu e quem te vê essa era uma
frase de elogio que Marcos sempre recebia da peonada e até mesmo do
patrão.
Em fim numa quermesse junina houve sua
troca olhares com uma camponesinha filha de um colono morador na fazenda e pela
primeira vez após aquela fase depressiva a mãe o viu sorrir novamente. Seus
olhos que até então perderam o brilho voltaram a brilhar. Feliz a mãe louvou e
deu graças a Deus.
Sergio jamais tocou no assunto a
respeito de Silvia, não que não soubesse que sua paixão o havia colocado no
fundo do poço. Ao contrário de Silvia que jamais o esqueceu, e sempre quis o
melhor para seu amado. Sergio a mantinha informada de todos os detalhes
ocorridos com o amigo. Eram realmente, uns amigos sinceros e verdadeiros. O que
ela mais desejava era vê-lo recuperado, sentia-se culpada pela desgraça do
rapaz, queria se vir livre do peso de consciência afirmava ao seu amigo Sergio.
Mas no fundo era seu amor doentio que falava mais alto. Quando soube da
camponesinha através do amigo passou varias noites em claro houve perda de
apetite, e na balança vários quilos a menos foram contabilizados. Seu pai
preocupado com sua decadência sugeriu a procurar um medico, mas Amélia
interferiu dizendo que a data do casamento aproximava era mais que natural a
filha emagrecer.
Silvia foi sincera e abriu o jogo com
seu noivo, dizendo que desde a infância amava outro e poderia vir a não lhe fazer
feliz. Ele ponderou amá-la também desde a infância e que com o tempo ela viria
amá-lo da mesma forma. O enlace se realizou com toda pompa e luxo, Marcos soube
através da imprensa local que deu destaque absoluto nas primeiras paginas dos
jornais da cidade. Apesar do sofrimento manteve-se firme era outro homem e seu
compromisso com a camponesinha era fato consumado a data de seu casamento
aproximava, ele baniu de vez aquele seu amor do pensamento.
Silvia foi morar na capital onde o
marido exercia sua profissão com competência e brilhantismo, tornou-se um ás na
medicina, adquiriu fama e muito dinheiro. Silvia não o amava e ele sabia, mas
nem por isso deixou de ser um bom marido. Morava com a sogra, aliás, a sogra
morava com ela desde que se casou e seu marido construiu sua residência. Uma
luxuosa mansão, Noêmia, a sogra era uma espécie de governanta na mansão do
casal. Silvia nunca se sentiu como dona de casa, tinha a estranha sensação de
ser apenas uma hóspede. Vivia sonhando acordada, com os seus devaneios, fingia
ser a camponesinha colocando-se em seu lugar imaginariamente, lavando roupas na
fonte carregando feixe de lenha na cabeça com seu filhinho enganchado em suas
cadeiras.
– Ah como ela trocaria todo o seu luxo
só para receber seu amor ouvir o tropel do cavalo chegando, preparar-lhe um
banho de bacia, remendar sua roupa, passar-lhe um café num dragãozinho simples
cheirando reboco de estrume com terra de formigueiro fresquinho. Naquela vida
abastada ela tinha tudo, mas faltava o principal a sua felicidade.
Visitava seus pais constantemente,
tinha seu carro e um motorista a sua disposição, viajava quando bem queria não
tinha nem uma obrigação domestica Noêmia a sogra era quem cuidava de tudo. Não
tinha filhos, porque nasceu estéril, mais um motivo que a levava a invejar
aquela camponesinha. Marcos havia se casado e pai de quatro lindos filhos, dois
casais adoráveis. Trabalhava como gerente na fazenda que passou a pertencer ao
amigo Sergio.
Apesar de sua frieza com o marido,
Silvia vivia harmoniosamente bem, a sogra lhe considerava como filha, este
fator fizera com que ela tomasse a mais difícil atitude de toda a sua vida
arrancar aquele amor doentio de seu coração. Mergulhada na solidão ela lia e
relia os bilhetes de amor que mantinha guardada desde a infância. Decidiu
enterrar aquele bauzinho com todas as juras de amor se desfazendo do único bem
que a vinculava ao seu passado. Viajou a sua terra natal e La com o coração
partido enterrou seu sonho.
Os anos passaram amadureceu sua
vivencia, tornou-se uma cinquentenária. Seu marido numa leve queda na escada do
hospital bateu com a cabeça e veio a falecer. Foi um grande choque, ela nunca o
amou, mas conviveu com ele e o respeitou como uma verdadeira e dedicada esposa.
A sogra transtornada com a perda do filho viu nela seu ponto de apoio e foi
correspondida. Silvia sentiu que estava na hora de retribuí-la por toda sua
dedicação carinho e compreensão. Mas o destino parecia conspirar contra ela,
assim que Noêmia se restabeleceu e parecia ter superado a perda do filho. Seus
pais que se quer uma simples dor de cabeça sofreram em toda a vida foram
atacados por uma enfermidade não diagnosticada tiveram que se submeterem a um
rigoroso tratamento. Ela teve que deixar a sogra na capital para cuidar dos
pais. De volta a sua terra a natal sentiu uma grande decepção Marcos estava
viúvo e mudara para a capital donde os filhos haviam concluído seus estudos e
estavam sendo bem remunerados trabalhando como empregados. Embora ela nunca
desejasse a morte da esposa de Marcos, ela viu surgir uma remota oportunidade
de reencontrá-lo, reacendeu uma pequena chama de esperança na realização de seu
adormecido sonho de amor.
A doença dos pais se alongou
demasiadamente ela dedicou todo o seu tempo e carinho a eles. Falecerem os dois
quase ao mesmo tempo, com o sofrimento daquela desconhecida enfermidade,
resignada ela manteve-se firme. Passado certo período ela resolveu atender aos
apelos da sogra que clamava sua presença na capital exigindo seu retorno a fim
de assumir os bens deixados pelo marido.
(Continua na próxima semana)
Autor: Geraldinho do Engenho
Bom Desapcho/MG
Autor: Geraldinho do Engenho
Bom Desapcho/MG
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