sábado, 20 de maio de 2017

Na arte de escrever a simplicidade agrada

Professor Ronan Tales de Oliveira

Um texto não é fruto do esforço, mas do merecimento. Quem utiliza com naturalidade o discernimento e a seleção, agrada. As palavras gostam de serem reconhecidas e colocadas em seus devidos lugares. O texto é filho da razão e da dimensão de nossa fé. A razão e a fé são duas asas que nos levam ao conhecimento, de forma racional e espiritual.
Confúcio disse: “Envolve-me que eu aprendo, e aprendendo posso escrever”. Deste modo, a afetividade é capaz de persuadir sem palavras e triunfar sem glórias. Em relação ao ofício de escrever, aprender, sentir, é mais interessante do que aprender a pensar. O sentimento é harmônico, porque é social. Enquanto que o pensamento se manifesta no equilíbrio pessoal. Ambos são necessários no ofício de escrever e representam o verso e o reverso de uma mesma moeda. Cada um se apresenta conforme a tonalidade do contexto.
O escritor é o partejador do espírito à espera do nascimento de uma ideia original. Pronta para repousar suavemente nas linhas de nosso texto.
Parafraseando Graciliano Ramos, aprendemos que: Deve-se escrever da mesma maneira como as lavadeiras da Biquinha fazem o seu ofício, cantando elas conseguem executar alegremente o seu trabalho, limpo, brilhante e transparente. Deste modo, quem escreve deve tomar o cuidado para a escrita não sair molhada. Na página escrita não deve pingar nenhuma palavra a não ser as desnecessárias. Deste modo o texto fica enxuto e agrada.
Somente o tempo pode nos ensinar a colocação certa das palavras. Aprendendo o ofício digitamos textos, escrevemos livros e ajudamos a fazer história. O ofício de escrever nos recomenda que é preciso esquecer para poder lembrar outra vez. Isto porquê a sabedoria mora no esquecimento.
Na arte de escrever, mais importante do que estar vivo, é poder renascer. As palavras renascem todos os dias em nossa mente, quando exercitamos nossa memória com o propósito gracioso de nos servir. O escritor cuidadoso procura escrever palavras de ternura e pensamentos humanistas, com a absoluta ausência de superficialidade.
O escritor, na arte de seu ofício, é por definição, um ser inquieto e angustiado, na busca incansável de uma ideia harmoniosa que possa lhe presentear uma definição mais abrangente da realidade da qual ele se encontra inserido.
Escrevendo o cotidiano, percebemos que a amizade é um amor que nunca morre. A saudade tem o poder de fazer as coisas pararem no tempo, e o passado não reconhecer o seu lugar, porque se encontra sempre presente em nossa vida. Em relação ao amor, percebemos que ele se entrega facilmente, porquê desconhece o temor. Neste contexto a vida não é uma pergunta a ser respondida, mas um mistério que deve ser vivenciado, todos os dias.
Neste pequeno ensaio literário, procuro conduzir as palavras a se colocarem de forma ordenada nas linhas de nosso texto. As palavras são como a chuva, sedentas para repousar na terra seus pingos d’água, na forma de conhecimento. Tanto as palavras quanto a chuva, são portadoras de bons frutos, nos surpreendendo com o frescor de sua doce presença. Desta forma, percebemos que o nosso intelecto, quando escrevemos, é mensurável, mas o sentimento não.
É sempre bom ensaiar escrever alguma coisa, porquê guardamos em nossa algibeira algumas boas palavras para os momentos oportunos. Nada é mais encantador do que poder oferecer, uma meia dúzia de palavras, uma frase, um conceito. É com cortesia que eu ofereço um texto às pessoas que gostam de ler. Já dizia o poeta das flores: “espera-se o perfume e a semente, a beleza nem tanto”. Das palavras espera-se a cortesia e a estima, a perfeição nem tanto.
A perfeição mora distante, por que ela é fruto da gratuidade de Deus a nós revelada. Só posso escrever o que eu sou, nada mais. A autoridade das palavras está inserida em sua originalidade. As palavras não mudam o passado, mas em sua originalidade ela possui o poder de melhorar o futuro.
Concluindo, as palavras bem escritas, tem o poder de vislumbrar um mundo diferente deste que nos é apresentado. Escrevendo, podemos oferecer o nosso melhor. Do escritor não se espera muita ambição, mas com certeza, muita emoção. O que ele possui em abundância, lhe foi dado de graça, por isto ele pode oferecer também de graça.
A arte de escrever é filha da vontade e do desejo. A vontade nos mantém à espera de uma boa ideia o desejo nos torna criativos e cheios de esperança. O saber exige de nós vontade, desejo e espera.
O crédito do escritor, consiste em não desistir da busca de uma ideia brilhante. Capaz de mover o céu e a terra, realizar sonhos, manter-nos vivos, aquecendo os nossos corações.

Autor: Professor Ronan Tales de Oliveira - Bom Despacho/MG

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